Em cinco anos de guerra civil na Síria, ao menos 161 ataques com armas químicas foram registrados no país, informou a Sociedade Médica Sírio-Americana (SAMS) em relatório divulgado nesta segunda-feira (14). O documento constata que esses incidentes deixaram quase 1,5 mil mortos e mais de 14,5 mil feridos.
“Desde o início do conflito na Síria, houve numerosas e terríveis violações de direitos humanos, incluindo o uso sistemático de armas químicas”, afirmou a ONG, com sede nos Estados Unidos, em comunicado.
A SAMS também afirmou que o uso de armas químicas no conflito está aumentando. Somente em 2015, 69 ataques do tipo foram registrados. O relatório é baseado em informações de profissionais de saúde que cuidaram de vítimas, além de outras ONGS e fontes locais. O documento é o mais abrangente já publicado sobre o tema.
O relatório revela a existência de outras 133 denúncias de ataques químicos, além dos 161, que não puderam ser substancialmente confirmadas. A organização fez um apelo aos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU e à comunidade internacional para identificar rapidamente os atores desses crimes e julgá-los no Tribunal Penal Internacional (TPI). As informações presentes no documento foram repassadas à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq).
“Estado Islâmico”
Em 2014, investigadores da Opaq começaram a desmantelar o arsenal químico do regime do presidente Bashar al-Assad, em acordo com uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de 2013 – aprovada após um ataque nos subúrbios de Damasco que matou centenas de civis. No entanto, os Estados Unidos e países do Ocidente acusam o governo de ainda possuir armas químicas e usá-las no conflito.
O relatório afirma que 77% dos ataques ocorreram depois de 2013 e que a maioria foi registrada no ano passado. O governo sírio nega o uso desse tipo de armamento contra a população. Nos últimos meses, relatos indicaram que o grupo extremista “Estado Islâmico” (EI) estaria usando armas químicas no conflito.
“Até o verão de 2015, os tipos de agentes químicos usados e o número de atores usando armas químicas aumentaram, com atores não estatais, incluindo o EI, usando gases mostarda e cloro”, afirma a SAMS.
Em fevereiro deste ano, os Estados Unidos capturaram o responsável pela unidade de desenvolvimento de armas químicas do EI. Em seu interrogatório, o jihadista deu detalhes sobre como o “Estado Islâmico” conseguiu carregar o gás mostarda em armamentos.
Crimes de guerra
Mahmoud Cherif Bassiouni, especialista em crimes de guerra da ONU, afirmou que a documentação sobre o uso de armas químicas na Síria será útil para assegurar que os autores dos ataques sejam responsabilizados por crimes de guerra e contra a humanidade.
“A documentação desses crimes internacionais, assim como de outros, será útil algum dia, quando ocorrer a responsabilização penal”, disse Bassiouni.
De acordo com as Nações Unidas, o conflito na Síria já deixou mais de 250 mil mortos e levou metade da população do país a abandonar suas casas. (Com agências internacionais)