Aconselhada por assessores e pelos integrantes do núcleo duro do governo, a petista Dilma Rousseff decidiu deixar o quase isolamento político e sair às ruas para defender sua permanência na Presidência, ameaçada diante do assustador avanço de uma crise múltipla (política, econômica, institucional e ética) que sacode o País.
A ideia palaciana é fazer com que Dilma participe do enfrentamento político que se ergueu a partir do pedido de impeachment e aumentar o número de inaugurações e eventos oficiais em todo o Brasil, como forma de mostrar à sociedade que o governo existe de fato e está em plena atividade. Ultrapassar as fronteiras do Palácio do Planalto não é missão das mais árduas, mas o desafio maior é comprovar a atividade de um governo que está em fase terminal.
Dilma, ainda como presidente, tem o direito de tentar defender o governo e, consequentemente, o seu mandato, mas é difícil convencer um a população que não mais suporta tanta incompetência e corrupção.
Como se não bastasse a roubalheira que transcendeu os limites da Petrobras, avançando em todas as direções da máquina estatal, Dilma tem um problema a mais em sua empreitada: a crise econômica que tem tirado o sono dos brasileiros.
A economia sangra no rastro de indicadores que apontam na direção do caos. Apesar da queda no consumo, a inflação oficial continua em patamares preocupantes, a ponto de o Banco Central insistir em manter a taxa básica de juro (Selic) em 14,25% ao ano. Com isso, a arrecadação tributária encolhe, comprometendo os investimentos de um governo extremamente aparelhado e inchado em termos de servidores.
Para azedar a receita que já indigesta, economistas consultados pelo Banco Central preveem nova retração do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, o que fará com que a economia brasileira registre dois anos consecutivos de desempenho negativo. Isso significa que não tão cedo o cenário de caos será revertido.
A situação piora sobremaneira quando o assunto é desemprego. Somente em fevereiro, o País fechou 104.582 vagas com carteira assinada. Trata-se do pior resultado para o mês desde o início da série histórica, em 1992. Além disso, fevereiro foi o décimo primeiro mês seguido de corte de vagas de trabalho formal. A última vez que o País teve saldo positivo nesse segmento foi em março de 2015. No acumulado dos doze meses, até fevereiro, são 1,71 milhão de postos de trabalho a menos.
Com a demissão de trabalhadores avançando no compasso da crise, a taxa de desemprego cresceu de 7,6%, em janeiro, para 8,2%, em fevereiro, nas seis maiores regiões metropolitanas do País, informou o IBGE nesta quarta-feira (23). Trata-se da maior taxa desde maio de 2009, quando o indicador registrou 8,8%.
Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego, que monitora o mercado de trabalho em seis regiões metropolitanas brasileiras: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Mesmo diante de um cenário que aponta na direção da tragédia econômica, Dilma está disposta a sair às ruas para, mentindo mais uma vez, tentar vender a ideia de que o Brasil é versão moderna e tropical do “País de Alice”, aquele das maravilhas, mas que enfrenta apenas uma leve ventania.