“Mais do mesmo”. Foi assim, com frieza, como se tratasse de uma multa de trânsito por dirigir sem cinto de segurança ou falando ao celular, que a senadora Gleisi Helena Hoffmann classificou a delação do advogado Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccini, que em depoimento à Procuradoria-Geral da República, no âmbito da Operação Lava-Jato, detalhou a entrega de dinheiro de propina à parlamentar petista.
Por maior que seja o desdém da senadora paranaense, a denúncia nada tem de banal. Pieruccini afirmou ter entregado, a mando do doleiro Alberto Yousseff, R$ 250 mil em dinheiro, montante destinado à campanha da senadora nas eleições de 2010. O delator deu todos os detalhes da entrega, inclusive alguns que já fazem parte do anedotário da Lava-Jato. Entre os quais, que levou o dinheiro em uma caixa com a identificação dos destinatários: Gleisi e o marido.
A tal caixa era identificada por uma cinta com os dizeres: P.B./Gleisi. Coisa de corrupto amador. O emissário de Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, o empresário Ernesto Kugler Rodrigues, contou as notas e disse que o valor – 250 mil reais – não “dava nem para o cheiro”. Ele reclamou também da etiqueta com o nome dos destinatários da propina. Onde já se viu propina com etiqueta? O episódio, segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, foi relatado Pieruccini, uma das mulas do doleiro do Petrolão.
“Essa delação já foi matéria em toda a imprensa há um mês. Todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor pela senadora Gleisi Hoffmann”, diz nota distribuída pela assessoria da senadora.
De fato as acusações mais graves tornaram-se corriqueiras na vida da senadora, já denunciada por cinco delatores da Lava-Jato e indiciada, juntamente com o marido, por corrupção passiva. Diante do cenário caótico, supostamente raciocina a senadora, a saída é encarar esses pequenos ‘percalços’ com naturalidade, como se corrupção fosse algo comum, tocar a vida para frente e combater o impeachment da presidente da República. Até porque, depois que Dilma for apeada do cargo, o STF e o próprio Congresso Nacional terão de tratar os casos escandalosos, como o de Gleisi.
De acordo com a assessoria da senadora petista, existem contradições na denúncia. Talvez sobre a ordem dos nomes apostos na caixa que serviu para embalar o dinheiro. Ainda segundo a equipe de Gleisi, “são inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada mais, nada menos, do que cinco versões diferentes para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram”.
Em seu depoimento, Pieruccini contou ter ouvido de Youssef que os valores “tinham sido acertados com Paulo Bernardo”, marido de Gleisi e ex-ministro do Planejamento (2005-2011) e das Comunicações (2011-2015), e se destinavam à campanha eleitoral da candidata ao Senado. O delator afirmou que as entregas ocorreram em uma sala do PolloShop, centro comercial popular de Curitiba, pertencente ao empresário Ernesto Kugler Rodrigues. Houve mais três entregas de propina, todas do mesmo valor.
A nota de Gleisi Hoffmann chama atenção para o fato de Pieruccini ser sócio de Youssef e de o advogado Figueiredo Basto advogar para boa parte dos delatores da Lava-Jato, como Delcídio do Amaral, Alexandre Romano, Pieruccini, Pedro Corrêa, Rafael Ângulo e Pedro Barusco.
“Obviamente, tendo o mesmo advogado, os delatores poderão alinhar suas versões antes de prestar depoimentos, para, além de se protegerem mutuamente, não serem incoerentes com o que dizem e envolverem nesse esquema quem eles têm interesse efetivo de envolver” argumenta.