(*) Percival Puggina
Esta terça-feira que antecede a votação do relatório da Comissão Especial do impeachment no Senado amanheceu com pneus ardendo em rodovias do país. Os jagunços do comandante João Pedro (quebra-quebra) Stédile vinham sendo, de viva voz, convocados como milícias do decadente governo. Com pneus velhos e foices mais luzidias do que baionetas de desfile, manifestam-se amuados com a decisão constitucional e soberana da Câmara dos Deputados e com a disposição do Senado Federal de afastar a presidente do atabalhoado exercício de suas funções. É bom, mesmo, que a Câmara Alta faça isso logo porque sua Excelência dedicou os últimos dias à impatriótica tarefa de jogar “miguelitos” no caminho de seu substituto.
O que leva as forças de Stédile a bloquear estradas queimando pneus também move a quase-ex-presidente Dilma a despejar pacotes de medidas cujo efeito é ampliar as dificuldades fiscais que Temer terá de enfrentar no exercício do seu período de substituição. É o mesmo motivo, aliás, pelo qual o governo está caindo, pelo qual o país foi levado a uma crise descomunal e pelo qual o partido governante afunda em descrédito. O PT é animado por aquele egoísmo que só aceita sistema ou ordem em que tudo gravite em torno de si mesmo. Sob tal perspectiva, o país e seu povo pertencem à sua órbita e nela se deslocam. É assim que operam as mentes totalitárias.
Eis aí, também, o motivo pelo qual o partido se recusa a admitir que seu governo levou o país ao caos. Os dados à sua frente nada o informam a esse respeito. Ao contrário, para o PT tudo estava muito bem com o sistema gravitando em perfeita ordem. Caos, para o partido que ainda governa o país enquanto escrevo, é o que se instala quando se embaralham as forças em seu universo particular. E se isso ocorre, fogo nos pneus. “Miguelitos” na estrada do Temer. Histeria masculina e feminina nos plenários. “Manhas e artimanhas”, para tumultuar a vida institucional. Manhas e artimanhas foram as palavras usadas pela presidente quando se referiu à patacoada promovida pelo presidente interino da Câmara dos Deputados no ato através do qual usurpou o papel de seu colega Tiririca. Manhas e artimanhas como aquela em que se degradou o ministro José Eduardo Cardozo ao organizar a farsa e arrastar os senadores da base para sua pantomima jurídica.
Estamos longe do fim. Por muito tempo ainda os veremos jogando pesado contra o interesse nacional, contra o bem do país e sua credibilidade. Por muito tempo ainda os veremos empenhados em causar o maior dano possível à sociedade brasileira, que conduziram a inédito nível de desemprego, perda do poder de compra, insegurança, criminalidade e desorientação. Afinal, como esperar algo mais republicano de um grupo político cuja militância queima pneus nas estradas e a quase-ex-presidente joga “miguelitos” no caminho do país?
(*) Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de “Crônicas contra o totalitarismo”; “Cuba, a Tragédia da Utopia”, “Pombas e Gaviões” e “A Tomada do Brasil – Pelos maus brasileiro”. Integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.