Marina Silva rebate denúncia de “caixa 2” em 2010, mas delator Léo Pinheiro não pode mentir

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No Brasil, política faz-se com muito dinheiro. Não importa o político, não importa o partido. Se o objetivo é ficar na parte da frente da vitrine política nacional, a ordem é colocar a mão no bolso, não exatamente no próprio bolso. O uso de caixa 2 tornou-se algo tão corriqueiro, que deixou de ser crime, apesar de a Justiça Eleitoral saber que os custos declarados de uma campanha nem de longe representam o valor efetivamente gasto. Contas de candidatos são aprovadas, como se aqui fosse o reino do faz de conta.

Em depoimento de colaboração premiada, no âmbito da Operação Lava-Jato, o ex-presidente da OAS, empreiteira envolvida no Petrolão, José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, afirmou às autoridades que a campanha de 2010 de Marina Silva à Presidência da República recebeu doações não contabilizadas. O que de chofre configura crime eleitoral.

Dona de DNA conhecidamente petista, Marina Silva assumiu o posto de representante da repentina moralidade pública desde que deixou a legenda que em várias ocasiões foi comparada a uma organização criminosa. Longe de qualquer juízo de valor antecipado, Marina pode dar todas as explicações, mas o estrago já está feito.

Marina Silva negou que tenha se valido de caixa 2 na campanha de 2010, o que já era esperado. Afinal, se admitisse o recebimento de doações não contabilizadas sua carreira política iria pelos ares. O empresário Guilherme Leal, dono da Natura e candidato a vice na chapa de Marina naquele ano, também negou o ilícito. E diz ser uma mentira deslavada de Léo Pinheiro a afirmação de que teria pedido doação “por fora” como forma de evitar o vínculo da campanha com empreiteiras.


Leal disse que na contabilidade da campanha há registros de doações de grandes empreiteiras, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. O empresário afirmou também, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, que não colocaria no lixo seus negócios e muito menos sua luta contra a corrupção. Contudo, Guilherme Leal ressalta que responde apenas por aquilo que fez. Ou seja, não coloca a mão no fogo por terceiros.

Sobre a possibilidade de existir algum interesse escuso por trás da acusação de Léo Pinheiro, o dono da Natura disse que “as delações estão se tornando cada dia mais difíceis”. “Mas existe um desejo claro de dizer que todo mundo é corrupto, de igualar todo mundo. Eu não sou”, completou o empresário. Ou seja, ele não é corrupto, mas deixou no ar a possibilidade cada um pensar o que quiser a respeito dos outros integrantes da campanha de Marina Silva, a começar pela própria ex-candidata.

Doação não contabilizada, feita no malfadado caixa 2, é de difícil comprovação, mas isso não é impossível. Bastam boa vontade e empenho, além de uma boa investigação, para se chegar à verdade. Na condição de delator, Léo Pinheiro não tem a incumbência de produzir provas, o que cabe às autoridades. Seu compromisso é revelar fatos, se possível de maneira detalhada, mas não pode faltar com a verdade. Se assim o fizer, corre o risco de perder os benefícios da delação e agravar a própria pena. Depois de receber o carimbo de corrupto, não há quem ouse mentir apenas para garantir uma temporada maior atrás das grades.

Se intenção canhestra existe na delação de Léo Pinheiro não se sabe, mas é possível afirmar que Marina Silva entrou para o clube dos suspeitos. Aliás, esse “bom mocismo” de Marina não convence. Na campanha de 2014, quando assumiu a condição de presidenciável após a trágica morte de Eduardo Campos, a candidata Marina Silva em momento algum se empenhou para esclarecer o escândalo envolvendo o jatinho que despencou na cidade de Santos, no litoral paulista, matando o então presidenciável do PSB e alguns assessores. Assim como não há meia gravidez, inexiste meia honestidade.

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