Citado na destrambelhada delação de Sérgio Machado, Requião recebeu doação da JBS Friboi

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Inveterado defensor dos fracos e oprimidos, crítico feroz do ‘capital vadio’ e devoto da Carta de Puebla (opção preferencial pelos pobres), o senador paranaense Roberto Requião (PMDB) foi envolvido em situação, no mínimo, constrangedora. É citado na delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, como um dos beneficiários das doações feitas pela JBS ao PMDB.

Questionado sobre essa contradição flagrante entre suas prédicas e práticas, Requião afirmou, por meio do seu advogado, Luiz Fernando Delazari, que todas as doações feitas pelo grupo empresarial à sua campanha de 2014 (quando disputou e perdeu o governo do Paraná) foram legais e oferecidas pelo Diretório Nacional do Partido a todos os candidatos do PMDB. “As doações foram feitas por repasses do Diretório Nacional e pela campanha de Michel Temer e oferecida a todos os candidatos do partido nas eleições de 2014. Não há irregularidades”, afirmou.

A declaração dos doadores de campanha de Requião ao TSE mostra que o senador recebeu R$ 2,4 milhões do grupo empresarial JBS Friboi, controlador do frigorífico Friboi, entre outras marcas. Desse valor, R$ 500 mil foram destinados à campanha de Requião ao governo do Paraná pelo Diretório Nacional do PMDB. Outros R$ 400 mil foram encaminhados por meio da campanha de Michel Temer à vice-presidência. Outro R$ 1,5 milhão foi doado pela JBS diretamente ao senador.

Delazari, que foi tesoureiro da campanha em 2014, também afirmou que todas as doações foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral. “O próprio Machado não disse que as doações foram irregulares. Na nossa campanha, tudo foi declarado ao TSE e não há nenhuma irregularidade”, completou.


Roberto Requião aparece na delação de Sérgio Machado como um dos senadores que teria sido beneficiado por um suposto acordo entre PT e PMDB para a intermediação de doações de campanha da empresa JBS para a bancada peemedebista no Senado. Machado contou aos procuradores que encontrou um diretor da JBS, Francisco Assis e Silva, em uma das reuniões que aconteciam na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros. Na ocasião, Assis e Silva teria afirmado que estava “ajudando em diversas campanhas políticas”.

De acordo com o documento, Machado afirmou que o grupo empresarial iria fazer doações no valor de R$ 40 milhões à bancada a pedido de PT e que diversos senadores seriam beneficiados pelo dinheiro. Entre eles o próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, e os senadores Jader Barbalho, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Vital do Rêgo, Eduardo Braga, Edison Lobão, Valdir Raupp, Requião e outros. Machado não soube dizer se o grupo empresarial recebeu algum tipo de favorecimento em troca dessa doação.

Não se pode imaginar que da noite para o dia a política nacional transformou-se em próspera seara da probidade, até porque isso é impossível, mas que as denúncias feitas por Sérgio Machado sejam acompanhadas de provas ou, então, que ele indique o caminho das mesmas. O dito pelo não dito serve para recrudescer a instabilidade política e fomentar o plano macabro de salvar a afastada Dilma Rousseff.

Ao delator não cabe a produção de provas, mas informações impossíveis de serem provadas comprometem sobremaneira a delação. Como sempre afirmamos, política no Brasil só se faz com muito dinheiro – normalmente de origem ilícita –, mas é preciso comprovar que doações legais de campanha, devidamente registradas, tinham como nascedouro acordos espúrios e recursos desviados. Do contrário, denunciar por denunciar é cair no vazio e salvar os corruptos de sempre.

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