Dados divulgados na terça-feira (21) no World Investment Report 2016, da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), mostram que em 2014 o investimento estrangeiro no Brasil foi de US$ 73 bilhões, mas em 2015 caiu para US$ 64,6 bilhões em 2015, ou seja, 11,5%. Isso aconteceu apesar do fluxo mundial ter sido o maior desde a crise de 2008, com alta de 38% sobre o ano anterior.
Desta forma, o Brasil caiu da 4ª para a 8ª posição mundial entre os países que mais recebem investimento de fora. A lista é liderada por Estados Unidos, Hong Kong, China, Irlanda e Holanda.
Outros relatórios trazem dados diferentes porque usam outros critérios. Para o Banco Central, por exemplo, a queda no investimento produtivo no ano passado foi de 22%. Já o fDi Intelligence, publicação do Financial Times, afirma que o Brasil conseguiu manter seu nível de investimento estrangeiro direto em novos projetos em 2015.
No setor automotivo, os números da Unctad para o Brasil resistiram mesmo com produção e vendas em queda porque projetos antigos tomaram forma. Por outro lado, os lucros reinvestidos desabaram 33% enquanto a compra de ações teve alta de 4%.
A forte desvalorização do real tornou vários ativos relativamente baratos para o investidor estrangeiro; um exemplo destacado pela Unctad é a compra de US$ 2,4 bilhões em ações da Souza Cruz pela British America Tobacco.
A liberalização de capital estrangeiro na saúde fez o investimento estrangeiro na área saltar de US$ 16 milhões para US$ 1,3 bilhão. Esse tipo de abertura é tendência mundial: 85% das medidas no ano foram favoráveis para investidores, mas 80% dos países continuam impedindo que estrangeiros tenham participação majoritária em pelo menos um setor.
O investimento estrangeiro direto subiu 9% nos emergentes, com alta na Ásia (de US$ 468 bilhões para US$ 541 bilhões) e pequenas quedas na África (de US$ 58 bilhões para US$ 54 bilhões) e América Latina (de US$ 170 bilhões para US$ 168 bilhões).
Nos países desenvolvidos, a alta foi de 84% e o fluxo chegou a US$ 962 bilhões. Nos Estados Unidos, o valor quase quadruplicou: de US$ 107 bilhões para US$ 380 bilhões. Em um ano, a participação dos desenvolvidos no fluxo total pulou 11 pontos percentuais (de 44% para 55%) e se tornou majoritária.
Contudo, uma boa parte dessa alta foi gerada por fusões e aquisições e estratégias em que empresas multinacionais transferem sua sede fiscal de um país para outro (muitas vezes um paraíso fiscal) para pagar menos impostos.
A Irlanda, destino conhecido para operações do tipo, viu seus recursos recebidos triplicados de US$ 31 bilhões para US$ 101 bilhões. Hong Kong também teve alta forte pelo mesmo motivo. Se não fosse por esse tipo de operação, o fluxo global teria subido mais modestos 15%.
A previsão da Unctad para esse ano é de queda de 10% a 15% no fluxo global de investimento direto por causa de motivos como demanda fraca, queda do preço das commodities e maior controle das transferências corporativas de sede fiscal.