Com os mercados financeiros ao redor do planeta em choque, a libra despencando e o prenúncio do que pode ser um período de caos político em Londres, alguns dos principais defensores do Brexit passaram a adotar um tom mais moderado em comparação ao discurso que foi derramado no pré-referendo.
Entre os neomoderados está o ex-prefeito de Londres e um dos principais articuladores da campanha pelo Brexit, Boris Johnson. Em artigo publicado nesta segunda-feira (27) no jornal “Daily Telegraph”, o deputado afirmou que não há necessidade de apressar a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
Johnson tentou tranquilizar os europeus que residem no país e os britânicos que vivem em outras regiões da UE, ao mesmo tempo em que pediu que os apoiadores do Brexit “construam pontes” com os que votaram a favor da permanência do país no bloco econômico.
A única mudança – que não virá de maneira apressada – é que o Reino Unido vai se libertar do sistema legislativo extraordinário e opaco da EU”, escreveu. “Os cidadãos europeus que vivem neste país terão seus direitos totalmente protegidos; o mesmo vale para os britânicos que vivem na UE”, afirmou o ex-prefeito, considerado um dos favoritos a suceder ao primeiro-ministro David Cameron, que anunciou que vai deixar o cargo em outubro.
Johnson, porém, disse que o “clima de apreensão” após o referendo se deve a alertas exagerados feitos durante a campanha. “No país e no Exterior, as consequências negativas estão sendo amplamente destacadas, enquanto o lado bom é ignorado”, escreveu.
Falsas promessas
Durante a campanha pela saída do Reino Unido do bloco das 28 nações, gerou enorme controvérsia a promessa feita por Johnson de que o país deixaria de enviar 350 milhões de libras esterlinas a Bruxelas todas as semanas, para investir em saúde pública.
Vários organismos públicos desmentiram esse número e disseram que a contribuição britânica à UE fica quase na metade, se for computado o reembolso negociado na década de 1980 por Margaret Thatcher, então primeira-ministra.
Poucas horas após proclamar o “dia da independência” britânica, o próprio líder do eurocético Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), Nigel Farage, admitiu que a soma divulgada por Johnson é “equivocada”. Outros líderes da campanha pelo Brexit também admitiram o erro.
Também os dados sobre a migração ao país teriam sido divulgados de maneira errada pelos apoiadores da saída do país da UE. O Ukip de Farage divulgou cartazes que mostravam uma enorme fila de refugiados sob os dizeres “ponto de ruptura”, e disseminou a ideia de que a Turquia estaria prestes a entrar na UE – apesar de todos os 28 países do bloco terem direito a veto sobre a adesão de novos países-membros.
Após o referendo, Daniel Hannan, membro do Parlamento Europeu e um dos maiores defensores do Brexit, chegou a afirmar que “se as pessoas acham que votaram e agora não haverá migrações da UE, ficaram muito decepcionadas”.
“Foram ditas várias coisas antes do referendo que nós talvez tenhamos que repensar novamente”, admitiu o ex-ministro da Defesa Liam Fox, político trabalhista que também fez campanha pelo Brexit. Segundo ele, isso inclui quando e como se dará o processo de saída da União Europeia.
Acalmando mercados
Os líderes da campanha do Brexit tentaram também acalmar as preocupações sobre o futuro econômico incerto do país ao declararem apoio público ao presidente do banco central britânico, Mark Carney, e ao ministro das Finanças, George Osborne.
“Pessoas mais sensíveis podem ver que o presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, tem feito um ótimo trabalho – e agora que o referendo acabou, ele poderá continuar seu trabalho”, escreveu Boris Johnson no “Daily Telegraph”.
O ministro da Justiça, Michael Gove, que liderou a campanha pela saída ao lado de Johnson, elogiou Osborne por dizer logo no início desta segunda que o Reino Unido poderá lidar com as incertezas provocadas pelo resultado do referendo.
“Eu ouvi o ministro e achei suas palavras incrivelmente tranquilizadoras”, disse Gove a repórteres. “A declaração do ministro forneceu a tranquilidade que o povo precisa.” (Com agências internacionais)