Escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados será mais do mesmo em um país em crise

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Mergulhado na mais grave crise de sua história, o Brasil precisa de mudanças urgentes na seara política, mas não é exatamente isso que desponta no horizonte. Com a Câmara dos Deputados paralisada há meses por conta dos imbróglios que envolvem o peemedebista Eduardo Cunha, a eleição do novo presidente da Casa legislativa, marcada para quarta-feira (13), será mais do mesmo. Ou seja, nada há de mudar, mesmo com a escolha de um novo comandante da Câmara.

No momento em que o País precisa de coalizão política para sair do atoleiro da crise, o que se vê na Câmara dos Deputados é uma disputa insana e irresponsável, que passa longe dos interesses e das necessidades da população. Ao todo, pelo menos por enquanto, são onze candidatos à presidência da Câmara, como se cada um tivesse na manga uma solução milagrosa para o nó que se instalou no Parlamento.

Entre os candidatos há aqueles que entraram na disputa apenas para saírem do ostracismo político ou, então, para alavancar eventual candidatura nas eleições municipais de outubro próximo. É o caso da deputada federal Luiza Erundina (SP), 81 anos, candidata do PSOL à prefeitura de São Paulo. É fato que as chances de Erundina vencer a disputa são quase nulas, mas sua candidatura serve para dar visibilidade à legenda, que cada vez mais agarra-se ao radicalismo esquerdista. Caso vencesse a eleição para a presidência da Câmara, Luiz Erundina teria de afastar-se do cargo para cuidar da campanha à prefeitura da capital paulista.


Na chamada base aliada há vários candidatos, alguns ligados ao presidente interino Michel Temer e outros ligados ao enrolado Eduardo Cunha. No caso do PMDB, o candidato escolhido na manhã desta terça-feira (12) é o deputado federal Marcelo Castro (PI), que durante alguns meses esteve à frente do Ministério da Saúde a convite de Dilma Rousseff. É importante destacar que Castro foi um dos últimos peemedebistas a desembarcar do governo do PT, além de ter votado contra a admissibilidade do processo de impeachment da presidente afastada.

A salada em que se transformou a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados mostra que o governo de Michel Temer, se deixar de ser interino com a aprovação do impeachment, terá dias difíceis na Casa, pois o excessivo número de candidatos aponta na escalada de interesses de grupos políticos, que por sua vez aumenta o escambo cada vez mais condenável. O Brasil precisa de atitudes republicanas, mas os chamados representantes do povo recorrem sempre ao corporativismo covarde e condenável.

A disputa está polarizada entre Rogério Rosso (PSD-DF), ligado a Cunha, e Rodrigo Maia (DEM-RJ), ligado a Temer. O Palácio do Planalto, nos últimos dias, afirmou não ter interesse em interferir na escolha do novo presidente da Câmara, mas tudo não passou de retórica de encomenda. Na verdade, Michel Temer trabalha nos bastidores para emplacar um candidato alinhado com o governo e também para unir a base nessa eleição. Missão duplamente difícil se considerado o fato de que política no Brasil é negócio.

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