Há no Palácio do Planalto, no entorno do presidente em exercício Michel Temer (PMDB), muito mais caciques do que índios. Isso porque há muitas pessoas dando palpite, principalmente em áreas que não lhes competem. É o caso do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que está sempre pronto para falar sobre qualquer assunto relacionado ao governo.
Se há em relação ao governo Temer, ainda interino, alguma dose de esperança, essa repousa sobre a equipe econômica, que por agregar profissionais competentes e reconhecidos é chamada de “dream team”. Afinal, não é qualquer governo que pode contar com Henrique Meirelles (Ministério da Fazenda), Ilan Goldfajn (Banco Central) e Maria Silva Bastos Marques (BNDES). De tal modo, todas as questões econômicas do governo devem ficar a cargo dessa equipe, não cabendo a qualquer outro ministro, exceto o do Planejamento (é interino), o direito emitir palpites sobre que qualquer assunto relacionado ao tema.
Padilha, sempre disposto a falar, disse que o presidente da República via com “bons olhos” uma redução da taxa básica de juro, a Selic, que atualmente está em 14,25% ao ano. O Comitê de Polícia Econômica (Copom) do Banco Central, a que, compete decidir sobre o andar da Selic, deve manter, em reunião que termina nesta quarta-feira (20), a taxa no atual patamar. Isso porque o presidente do BC decidiu que a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegará ao centro da meta (4,5%) em 2017. E essa missão só é possível com taxa de juro elevada.
No caso de o Copom optar por reduzir a Selic, mesmo que de forma mínima, ficará a impressão que o Banco Central é suscetível à pressão política, o que pode comprometer a confiança do mercado financeiro em relação ao País. No caso de a expectativa do mercado ser confirmada – manutenção da Selic em 14,25|% – alguém poderá interpretar que o governo não é tão forte quanto parece. Ou seja, é tiro no pé na ida e na volta, algo desnecessário.
A declaração do ministro Eliseu Padilha foi pronta e elegantemente desaprovada, no rastro de duas mensagens postadas por Michel Temer no Twitter: “O Banco Central tem plena autonomia pra definir a taxa de juros”. “A política monetária tem como prioridade combater a inflação e esse é o objetivo central de meu governo”, completou o presidente. Em outras palavras, Temer saiu em socorro da equipe econômica, que sentiu-se incomodada com as declarações de Padilha.
Henrique Meirelles, que é muito respeitado n Palácio do Planalto e tem a total confiança do presidente em exercício, já demonstrou insatisfação com a incursão do chefe da Casa civil em assuntos exclusivamente econômicos. Até mesmo quando a equipe econômica concede alguma entrevista no Palácio do Planalto, Eliseu Padilha não perde a oportunidade de se fazer presente.
Fato é que Meirelles já andou reclamando com Michel Temer, que terá de ser hábil ao extremo para lidar com a situação. Se o ministro da Fazenda se irritar com esse espetáculo histriônico de Eliseu Padilha, a combalida economia brasileira tende a permanecer no atoleiro da crise. Em suma, Temer precisa urgentemente definir quem manda e onde.