Operação Hashtag: desdenhar o grupo de supostos terroristas presos pela PF não é a melhor receita

estado_islamico_1010

Se jabuticaba só existe no Brasil, o país é um dos únicos em que autoridades concedem entrevistas em meio a investigações. Isso vem ocorrendo desde a primeira fase da Operação Lava-Jato, assim como aconteceu nesta quinta-feira (21), horas depois da deflagração da Operação Hashtag, da Polícia Federal, que prendeu dez suspeitos de planejar atentados terroristas para serem supostamente executados durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara federal de Curitiba, disse, em entrevista coletiva, que “não ousaria” falar em líderes entre os suspeitos presos. Nos grupos criados em redes sociais para se comunicarem, alguns dos suspeitos revelaram conhecimento mais profundo acerca de organizações terroristas.

“Tem alguns que são mais ativos. Outros são menos incisivos, são mais postagens de fotos”, declarou o magistrado. “Essa questão da liderança quero esclarecer que foi uma leitura feita pelo ministro da Justiça. Eu, como juiz, não ousaria dizer que ele [um dos suspeitos] é uma liderança proeminente”, completou.

Contudo, para algumas autoridades trata-se de um grupo de amadores, sem liderança e que pregava o radicalismo e a intolerância.

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, também em entrevista coletiva realizada na manhã desta quinta-feira, disse que o grupo teria um líder que convocou os demais a uma espécie de preparação de atos terroristas, mas com treinamento de artes marciais e de tiro.


É importante ressaltar que nesse contexto, mesmo que os suspeitos não sejam profissionais do terror, não há pessoas despreparadas ou iniciantes. Aliás, o “Estado Islâmico”, grupo terrorista ao qual prometeram lealdade, não cerra fileiras com despreparados ou estreantes, que até mesmo para “lobos solitários” são descartados.

Faltando apenas quinze dias para o início dos Jogos Olímpicos, a melhor receita é não duvidar publicamente da capacidade dos presos de realizarem um atentado, mesmo que as investigações permitam concluir que trata-se de empirismo barato de radicais contestadores. Até porque, o desdém a essa altura dos acontecimentos pode acender um rastilho de pólvora perigoso incontrolável, o que não é recomendado para o momento.

Levando-se em conta que o “Estado Islâmico” vem perdendo posições territoriais e por conta disso passou a se valer de atentados para dar maior publicidade à ideia criminosa de se criar um califado em parte do Iraque e da Síria, o melhor a se fazer é avançar com as investigações e evitar comentários. Ademais, a partir da Operação Hashtag o Brasil pode ter entrado no radar do EI.

O juiz Marcos Josegrei disse que as afirmações disponibilizadas pelo grupo nas redes sociais não garantem que um eventual atentado seria concretizado em futuro próximo. “Não é um pré-julgamento. Ninguém foi condenado. Não se está afirmando que há uma célula terrorista brasileira em plena atividade”, afirmou o juiz, que aposta na investigação para confirmar se as ações terroristas seriam ou não levadas a cabo.

Não se pode esquecer que no universo do terror a paciência é um bem precioso. Ou seja, não há no terrorismo espaço para apressados. Esse episódio pode ter sido um balão de ensaio do EI, que começa a sondar a preocupação e a reação das autoridades brasileiras diante da ameaça de atentados. Os desdobramentos do caso poderão funcionar como balizamento para futuras ações do grupo, que conta com muitos adeptos no Brasil.

apoio_04