Após golpe fracassado, o intolerante Recep Erdogan empurra a Turquia na direção do totalitarismo

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Não se pode negar que o golpe de Estado tentado na Turquia no último dia 15 de julho fracassou por falta de planejamento, mas o presidente Recep Tayyip Erdogan, um conhecido candidato a tiranete, aproveitou o momento para deflagrar o seu próprio golpe. Erdogan valeu-se da disposição obediente de boa parte da população, que chamada a reagir contra os militares golpistas não demorou a ocupar das principais cidades do país, em especial Istambul e Ankara.

Diante desse cenário antidemocrático, mas favorável às suas intenções bisonhas, Recep Erdogan prendeu milhares de militares, inclusive oficiais de alta patente, proibiu cientistas e acadêmicos de viajarem ao exterior, ordenou o imediato retorno ao país de outros tantos, suspendeu alguns serviços de internet e passou a controlar com maior rigor os veículos de comunicação. Juízes, integrantes das Forças Armadas e da cúpula das principais universidades foram afastados de suas funções.

Tal situação conta com o apoio da maioria da população turca, que desde os primeiros momentos do frustrado golpe vem agindo cegamente a partir de ordens esdrúxulas do próprio Erdogan, sem pensar nas graves consequências do momento atual. Tanto é assim, que o presidente voltou a defender a pena de morte, o que sugere a instalação de uma corte marcial, a qual decidirá a sorte dos adversários de Erdogan e sua turba de antidemocrática.

Além disso, Erdogan decretou estado de emergência por três meses, o que faz com que a democracia turca fique ameaçada, pois nessa situação o presidente e seu gabinete podem aprovar leis sem a necessidade de submetê-las ao Parlamento.


A decretação do estado de emergência aponta para um horizonte de muitas incertezas, no qual espera-se o aumento da repressão, que já não é pequena. Além disso, o presidente turco poderá limitar ou suspender direitos e liberdades, desde que entenda necessário ou sinta-se ameaçado. Com essa medida, Erdogan poderá impor toque de recolher, restringir a liberdade de reunião pública, proibir a publicação de um livro e a emissão de opinião.

Como se não bastasse, o governo de Ankara solicitou aos Estados Unidos a extradição de Muhammed Fethullah Gülen, teólogo turco e islâmico erudito que vive um autoexílio na Pensilvânia, de ter comandado o golpe à distância.

O gabinete de Recep Erdogan enviou aos EUA supostas provas da participação de Güllen no fracassado golpe, mas não se pode ignorar que a Turquia está longe de ser um Estado Democrático de Direito. A começar pelo desrespeito ao preceito da laicidade. Não há provas concretas e convincentes da participação de Fethullah Güllen na tentativa de golpe, mas o que ele defende é o respeito às leis democráticas turcas. Algo que incomoda sobremaneira o quase caudilho Erdogan.

Voltando à decretação do estado de emergência, a medida causou inquietude na população turca, inclusive na parcela que saiu às ruas para defender o governo de Erdogan. A partir de agora, a Turquia está à deriva e dependendo da própria sorte para sobreviver como democracia, mas isso é algo quase impossível com o governo atual, que já mostrou disposição de transformar o país em cenário de perseguição desmedida.

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