Quem conhece a fundo a política nacional não preciso muito esforço do raciocínio para imaginar o resultado de uma reunião entre Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil da Presidência, Leonardo Picciani, ministro do Esporte, e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasil e comandante tupiniquim dos Jogos do Rio de Janeiro.
Durante encontro no Palácio do Planalto, nesta terça-feira (26), Padilha, Picciani e Nuzman conversaram sobre o fiasco em que se transformou a entrega dos apartamentos da chamada Vila Olímpica, evento seguido por críticas de diversas delegações, que se dividiram entre não se hospedar no local e colocar a mão no bolso para bancar os reparos necessários nos apartamentos. Em suma, a Olimpíada do Rio de Janeiro falhou logo no primeiro teste.
Apesar dos fatos incontestáveis, o trio apresentou argumentos, entre os quais o de que em qualquer edição dos Jogos Olímpicos há problemas no setor de alojamento dos atletas, como se o Brasil tivesse a obrigação de errar como outros países já fizeram. Após o encontro palaciano, Nuzman, com seu conhecido discurso visguento, disse: “Ninguém começa a organização de Jogos Olímpicos sem a necessidade de ajustes. Eles existem… Todas as Vilas Olímpicas em todos os Jogos aconteceu isso (ajustes)”.
Preocupado com o que ocorreu no Rio de Janeiro, mais precisamente na Vila Olímpica, o presidente em exercício Michel Temer, que não participou da reunião, mandou um duro recado: que a partir de agora o que está em jogo é a imagem do Brasil, que, diga-se de passagem, não é das melhores em vários quesitos.
Eliseu Padilha, por sua vez, na condição de ventríloquo oficial palaciano, disse que a imagem do Brasil é assunto para o final do evento esportivo. “A imagem do Brasil será julgada ao final dos Jogos Olímpicos. Estamos em uma fase preliminar, em que se encontram problemas como esses que estão sendo resolvidos, mas o que vai contar é o que teremos durante o evento… temos tranquilidade sobre o amanhã”.
Sequestro de lutador
Ao que parece, Padilha ainda não sabe do caso dos policiais militares do Rio de Janeiro que sequestraram Jayson Lee, lutador neozelandês de jiu-jistu que foi obrigado a sacar dinheiro em vários caixas eletrônicos e entregar aos algozes.
O faroeste caboclo em que se transformou o Brasil não será alvo de um milagre ao longo da Olimpíada, fazendo dessa barafunda tropical a recepção do paraíso. A pouca seriedade que impera no País ficou evidente na sequência do caso envolvendo Jayson Lee, que na tarde da segunda-feira foi surpreendido em sua casa por uma equipe da Corregedoria da Polícia Militar para que ele identificasse os sequestradores.
Considerando que o crime envolve um atleta estrangeiro que participará do mais importante evento esportivo global, o mínimo que os integrantes da Corregedoria da PM deveria ter feito era contatar o consulado da Nova Zelândia.
Colocando água fria no ufanismo barato de Padilha, Picciani e Nuzman, o atleta neozelandês postou em rede social a seguinte mensagem: “Eu fui sequestrado no Brasil. Não por algumas pessoas aleatórias com armas, mas por policiais em serviço com uniforme completo. Fui ameaçado de prisão se eu não entrasse no carro particular e os acompanhasse até dois caixas eletrônicos para retirar uma grande soma de dinheiro para suborno”.
Traduzindo para o bom e velho idioma dessa terra de ninguém, a imagem do Brasil começou a ser esculpida com o cinzel da vergonha e do descaso, muito antes dos Jogos Olímpicos.