Enquanto Dilma nega caixa 2 na campanha, João Santana fala a verdade para deixar a prisão

joao_santana_1001

Reza a Constituição Federal que ninguém é obrigado a produzir provas contra si, mas em algumas situações negar os fatos é pior do que reconhecer a própria culpa. Mesmo assim, os políticos preferem destilar uma falsa inocência a serem consumidos pela verdade.

Cada vez mais enrolada no Petrolão, o maior esquema de corrupção da História, Dilma Rousseff, a presidente afastada, rebateu o marqueteiro João Santana e disse que jamais autorizou a negociação de dinheiro de caixa 2. A petista foi além e afirmou que se isso aconteceu, Santana tratou do assunto com a tesouraria do Partido dos Trabalhadores.

A declaração de Dilma tem pelo menos dois ingredientes importantes que merecem análise. O primeiro deles é que nos bastidores aumentou a queda de braços entre a presidente afastada e a cúpula do PT. Dilma sabe que será “atirada aos leões” no caso de o processo de impeachment ser aprovado, por isso começa a tentar arrastar o partido para o olho do furacão. Por outro lado, o PT tem se empenhado, mesmo que de maneira não escancarada, para se livrar de Dilma o quanto antes, pois sabe que sua situação impactará nas eleições municipais.

O segundo detalhe: por mais que uma campanha eleitoral tenha um tesoureiro, que em tese é o responsável pelas finanças, o candidato não pode fingir que desconhece a origem da enxurrada de dinheiro que passa pelo caixa, seja oficial ou oficioso.

Dilma tem um cipoal de defeitos – de truculência à incompetência, passando por leniência – mas está longe de ser tola. Aliás, a presidente afastada de parva nada tem. Até porque, se assim fosse jamais teria chegado à Presidência da República, mesmo com o apoio do antecessor.


O político que assume a proa de uma campanha eleitoral bilionária não pode imaginar que dinheiro cai do céu e que sua aceitação é tamanha a ponto de pessoas e empresas despejarem fortunas em uma disputa presidencial. Neguem à vontade, mas a campanha de Dilma Rousseff em 2014 não saiu por menos de US$ 400 milhões – no câmbio oficial desta quarta-feira (27) equivale a R$ 1,3 bilhão. O custo da campanha de 2010 não fugiu desse valor em dólar.

É natural que Dilma negue os fatos para evitar o pior, mas é preciso lembrar que João Santana está a negociar um acordo de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava-Jato e por conta disso não pode mentir. Além disso, o delator assume o compromisso de revelar à força-tarefa da Lava-Jato fatos passiveis de comprovação, sob pena de assim não fazendo comprometer o acordo.

Se por um lado Dilma mente ao negar o caixa 2 de campanha, por outro João Santana ainda não contou tudo o que sabe. E dificilmente falará tudo aos procuradores da Lava-Jato, assim como fez a extensa maioria dos delatores.

Desmentidos para lá e para cá, quem mais tem a perder nesse imbróglio é Dilma Rousseff, já que João Santana quer se livrar o quanto antes do enfadonho e implacável cotidiano do cárcere, algo que a presidente afastada conhece desde os tempos da ditadura militar.

apoio_04