Como vem insistindo o UCHO.INFO ao longos dos últimos anos, é impossível o País ser refém de políticos que fazem do mandato eletivo um negócio criminoso e milionário, sem que a Justiça consiga conter essa onda de banditismo oficial.
Confirmando matéria publicada na edição de segunda-feira, 1º de agosto, o impeachment de Dilma Rousseff continua sendo usado moeda de troca por políticos inescrupulosos, que cobram do presidente em exercício cargos na máquina federal em troca de votos pela aprovação do processo no plenário do Senado.
No rastro desse escambo espúrio chegou-se a cogitar a possibilidade de deixar para setembro a decisão sobre o impedimento da presidente afastada, como se o Brasil, diuturnamente devorado por crise político-econômica sem precedentes, pudesse esperar. Um desses mercadores parlamentares é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que, sabe-se, nunca operou na mesma sintonia do interino Michel Temer.
Calheiros tenta emplacar no Ministério do Turismo, desde que a pasta ficou acéfala com a demissão de Henrique Eduardo Alves, um dos seus afilhados políticos. Trata-se do deputado federal Marx Beltrão, peemedebista de Alagoas, reduto político do presidente do Senado.
Algumas questões têm dificultando a nomeação do novo ministro. A primeira delas é o fato de olho no cargo estão dois peemedebistas mineiros: Leonardo Quintão e Newton Cardoso Júnior. No momento, considerando as necessidades do governo, Michel Temer está propenso a agradar os senadores, que decidirão no próximo dia 29 o futuro político da presidente afastada. Mesmo Beltrão sendo deputado federal, sua eventual nomeação agradaria Renan, que tem nas mãos o controle do Senado e de parte da bancada peemedebista na Casa. Calheiros nega que tenha indicado alguém para o cargo, mas nos bastidores esse discurso é considerado como “pó de arroz”.
A segunda questão reside na necessidade do governo de aprovar com urgência, na Câmara dos Deputados, matérias que buscam tirar o País do atoleiro da crise. Entre essas medidas está a que limita o reajuste dos gastos do governo ao índice oficial de inflação do ano anterior. E sem o apoio dos deputados a aprovação das matérias pode demorar muito mais do que imaginam os palacianos.
Para não comprometer o cronograma do julgamento do impeachment de Dilma, senadores estão aconselhando Michel Temer a nomear de uma vez o afilhado do presidente do Senado. Cenário que mostra com clareza que não tão cedo será possível promover uma faxina na política nacional.
No caso de nomear Marx Beltrão, o presidente em exercício levará ao governo mais um investigado. Beltrão foi prefeito de Coruripe (AL), entre 2005 e 2012, e é alvo de ação penal por crime de falsidade ideológica. De acordo com o Ministério Público, o deputado alagoano, enquanto prefeito, fraudou informações sobre a dívida do município com a Previdência Social para evitar o bloqueio da transferência de verbas da União.
Eleitos para representarem no Congresso o desejo dos eleitores, deputados e senadores ignoram as mentirosas promessas de campanha e, dia após dia, dedicam-se apenas aos próprios interesses, fazendo do mandato parlamentar a senha de acesso a um privado e imundo clube de negócios nada republicanos.
Alvo de processos no Supremo Tribunal Federal (STF), Renan Calheiros sequer deveria estar na presidência do Senado, muito menos dando ordens e cobrando contrapartidas típicas de bandoleiros profissionais, que usam a chantagem como meio de vida.