Ameaçada por nova delação, que poderá levá-la à prisão, Gleisi quer ditar regras do impeachment

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Após debochar da Justiça ao dizer “nós não pegamos um centavo”, de ter sido denunciada por seis delatores da Operação Lava-Jato por recebimento de propina do Petrolão, de ter o próprio marido e o advogado presos por suspeita de envolvimento em esquema que surrupiou R$ 100 milhões de servidores federais aposentados, Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) não perde a pose.

A senadora petista resolveu atacar, com a fúria dos insanos, a proposta de adiantar o rito do processo de impeachment, que se arrasta há meses e já esgotou todas as possibilidades de reversão.

Para Gleisi, trata-se de “um golpe dentro do golpe”. No entanto, o que a parlamentar paranaense não percebeu é que golpe de fato foi a decisão, por unanimidade, da Segunda Turma do STF de negar habeas corpus para o ex-deputado André Vargas Ilário (ex-PT).

Um dos principais implicados na Lava-Jato e, em priscas eras, irmão-camarada do doleiro Alberto Youssef, Vargas pode ter alcançado com a decisão do STF o ingrediente que faltava para negociar acordo de colaboração premiada. Se isso acontecer, o castelo de Gleisi há de ruir.

André Vargas foi coordenador e arrecadador financeiro das campanhas de Gleisi. Sua relação com a senadora vem da década de 80, tempo em que o único político da família era o marido de Gleisi, Paulo Bernardo da Silva. Vargas e Bernardo já foram condenados, conjuntamente, por irregularidades em arrecadação de campanha para deputado federal nesse período pioneiro. Pelo que consta, os métodos de arrecadação só pioraram ao longo desse tempo.


Ao recusar o habeas corpus de André Vargas, o relator, ministro Teori Zavascki, considerou que, caso solto, há o risco de ele voltar ao crime. “É importante registrar que, ao contrário do que registra a defesa, há risco concreto de reiteração”, disse Teori, que relata os processos da Lava Jato no STF. “Não se revela no caso dos autos possível a substituição da prisão preventiva por outra medida. Por essas razões que nesse caso não há como conceder a ordem, apesar desse longo tempo”, acrescentou.

Vargas, que já foi vice-presidente da Câmara e era filiado ao PT, teve o mandato cassado em dezembro de 2014. Em setembro do ano passado, foi condenado a 14 anos e quatro meses de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. No processo, ele foi acusado de ter recebido R$ 1,1 milhão em propina da agência Borghi Lowe para que a empresa fosse contratada para prestar serviços de publicidade para a Caixa Econômica Federal e para o Ministério da Saúde.

Apesar de condenado, a prisão ainda é preventiva, uma vez que a decisão é de primeira instância. Para o começo efetivo do cumprimento da pena é preciso que haja, pelo menos, uma decisão de segunda instância.

A condenação de Vargas é considerada certa, dado o volume de provas contra ele. A única possibilidade de escapar de longo período atrás das grades está em um acordo de delação premiada. É exatamente esse detalhe que alimenta os piores pesadelos de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo.

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