Caixa 2: entre o discurso condenatório das autoridades e a prática criminosa admitida por políticos

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A semana termina com um assunto preocupante e marcado por declarações antagônicas. Mesmo assim, o tema merece a atenção das autoridades, pois o Brasil não mais pode ser corroído pela corrupção sistêmica inaugurada pelo Partido dos Trabalhadores e que alcançou proporções inimagináveis ao longo da última década.

Na última segunda-feira (1), no despacho em que determinou a soltura de João Santana, marqueteiro das campanhas de estrelas petistas, e de Mônica Moura, esposa e sócia do comunicólogo baiano, o juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância do Judiciário pelos processos decorrentes da Operação Lava-Jato, justificou sua decisão, mas destacou ser “necessário censurar em ambos a naturalidade e a desfaçatez com as quais receberam recursos não contabilizados, o caixa 2, como remuneração de serviços prestados em campanhas eleitorais”.

Esse trecho do despacho se deve à fala de Mônica Moura, quando questionada pelo juiz da Lava-Jato sobre o recebimento de US$ 4,5 milhões de caixa 2. “Foi referente a uma dívida de campanha que ficou, que o PT ficou devendo para a gente, na campanha de 2010. Na campanha da presidente Dilma”, disse a mulher e sócia do marqueteiro.

Quando Moro cobrou explicação sobre as razões de um recebimento “por fora”, João Santana não demorou a responder e abusou da naturalidade ao tratar do tema. “Eu acho que decorre dessa cultura generalizada de caixa dois”.

Também na segunda-feira, o presidente nacional do Partido Progressista, Senador Ciro Nogueira (PI), disse, ao criticar a proibição de financiamento de campanhas eleitorais por empresas: “Não tenho nenhuma dúvida de que esta será a eleição do caixa dois”.

“Acabamos com o financiamento e não criamos um sistema público. Não tem como você usar o fundo partidário para bancar todas as campanhas”, completou o presidente do PP.

Tesoureiro do PMDB, o senador Eunício Oliveira (CE) concorda com a opinião do colega de Parlamento. O peemedebista lembrou que mesmo com o aumento nos recursos do fundo partidário – em 2015 subiu de R$ 289 milhões para R$ 868 milhões –, o repasse sempre foi insuficiente para bancar de forma ortodoxa as campanhas eleitorais.


“Não tem como fazer campanha que não seja franciscana agora”, disse Eunício ao “Estadão”, para quem a decisão do Supremo Tribunal Federal de declarar inconstitucional a doação de pessoas jurídicas privilegiará, ao contrário do pretendido, candidatos que podem bancar sozinho suas campanhas.

“Os pobres como vão se financiar? Estamos igualando a eleição? Ao contrário, estamos desigualando”, destacou Eunício Oliveira, que é considerado um dos mais ricos senadores da República.

Por outro lado, na terça-feira (2), a presidente afastada Dilma Rousseff, que está em intensa e contínua guerra com seu partido, que a abandonou no caso do impeachment, disse que o PT precisa assumir os seus erros e se reinventar.

“Eu acredito que o PT precisa passar por uma grande transformação. Primeiro, uma grande transformação em que se reconheça todos os erros que cometeu do ponto de vista da questão ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas”, disse Dilma em entrevista à revista “Fórum”

Ou seja, Dilma sugere que o PT chafurdou na lama da corrupção que escorreu do Petrolão e de outros esquemas criminosos. Por outro lado, a direção da legenda não cansa de repetir que respeita a legislação eleitoral e que todas as doações foram legais, registradas e aprovadas.

É preciso que a Justiça Eleitoral saia da letargia ou abandone o “faz de conta” que adotou há décadas. No momento em que fixa em R$ 47 milhões o limite de gasto para cada candidato à prefeitura de São Paulo na eleição de outubro próximo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que acostumou-se ao equivocou o que prefere ser enganado.

Uma campanha para a prefeitura da maior cidade brasileira, com chance de sucesso, custa entre R$ 130 milhões e R$ 150 milhões. Ninguém reconhece publicamente esse valor, mas nos bastidores eleitorais partidos e candidatos tratam do assunto com naturalidade. Mesmo que uns tenham menos e outros, mais. Resumindo, não será tão cedo que o brasileiro verá o drástico encolhimento da corrupção.

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