Impeachment: discurso da esquerda é desconexo e mentiroso, mas tenta salvar o PT da lama do Petrolão

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Mesmo depois de alguns senadores abrirem mão do uso da palavra na sessão de pronúncia da presidente afastada Dilma Rousseff, os discursos no plenário do Senado Federal bambeiam entre o devaneio esquerdista e a tentativa rasteira de fazer do PT uma reunião de monges tibetanos. A desfaçatez que domina a fala dos integrantes da tropa de choque de Dilma é tamanha, que acompanhar a sessão parlamentar exige doses de coragem e resistência estomacal.

O impedimento da presidente afastada é tido como certo, até mesmo pela cúpula petista, mas a partir de agora a estratégia é manter o discurso do golpe e de que todos estão balizados pela régua da corrupção, como forma de minimizar os efeitos colaterais do Petrolão no Partido dos Trabalhadores, que corre o risco de ser varrido do mapa político nacional por conta do envolvimento em inúmeros escândalos de corrupção.

Para tanto, a ordem é insistir na tese mentirosa do golpe e alegar que o impeachment promoverá um sem fim de mudanças nocivas, como a retirada dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres, o sucateamento da saúde pública, mudança nas regras da aposentadoria, redução dos investimentos em educação e outros tantos absurdos, lançados ao vento para tentar fazer de uma avalanche de mentiras uma gota de verdade. E mesmo assim esses alarifes com mandato não obtêm êxito.

Um dos mais aguerridos integrantes da tropa de choque da afastada Dilma, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) abusou da mentira e da apelação ao discursar contra o impeachment. Ao iniciar sua fala, o senador fluminense dirigiu a palavra ao ministro Ricardo Lewandowski, que preside os trabalhos, e disparou: “Desculpe, Sr. Presidente, mas isso aqui virou um balcão de negócios nesse jogo sujo do impeachment, até melancia ganhou cargos nessa discussão.”

Que Lindbergh Farias é dono de desmedida ousadia todos sabem, mas não se pode aceitar que um integrante do partido responsável pelo período mais corrupto da história nacional finja não saber do Mensalão e do Petrolão, dois escândalos de corrupção que ajudaram o PT a aprovar no Congresso matérias do seu interesse. Usaram dinheiro desviados de empresas públicas para comprar o voto de parlamentares bandoleiros, mas agora posam de honestos incompreendidos e perseguidos.

E Lindbergh foi além: “E olha que, neste momento, nós somos juízes. Um juiz… É um momento especial do Senado, em que nós não somos só uma Casa política. Um juiz não pode negociar vantagens com a outra parte. Isso é crime, Sr. Presidente.”

Ou seja, o PT passou treze anos e alguns meses negociando vantagens de forma criminosa, mas o outrora “cara pintada” tem a coragem de usar a tribuna do Senado para um espetáculo de impressionante mitomania.


Em outro trecho do seu discurso, o petista acionou o besteirol: “Quanto à Presidenta Dilma, eu estou tranquilo porque sei que, se esse golpe se consumar, uma coisa ela vai conquistar: é seu espaço na história. A Dilma vai estar no panteão da história junto com Getúlio e Jango, vítimas de um golpe perpetrado por essas elites conservadoras do nosso País, que são irresponsáveis, porque não têm compromisso com a democracia, nunca tiveram. Não tiveram contra Getúlio, contra Juscelino Kubitschek, contra Jango. Uma elite brasileira que apoiou a ditadura militar desde o seu início.”

Dilma tornou-se conhecida por sua devastadora incompetência, mas Lindbergh Farias quer fincá-la na História apenas por ter desrespeitado a Constituição, cometido crime de responsabilidade e ter sido apeada do poder de acordo com o que determina a legislação vigente no País. Essa lufada de vitimização, que só encontra lugar em enredo de novela mexicana, serve tão somente para, mais uma vez, ludibriar a parcela incauta da opinião pública, que continua acreditando que o PT é a salvação do universo.

E a fanfarrice discursiva do senador não parou por aí: “E tem mais, Sr. Presidente. Quando eu falo disso, a irresponsabilidade de entrar nessa aventura, Michel Temer. Os senhores sabem que Michel Temer não sustenta esse Governo até 2018. Uma delação de Eduardo Cunha acaba esse governo. Mas não é só Eduardo Cunha, são várias as delações contra o Presidente interino.”

Todos os delatores da Operação Lava-Jato estão a apontar o indicador na direção do PT e de petistas graúdos (muitos presos), mas Lindbergh Farias ousa falar em corrupção e a ameaça que representa Eduardo Cunha para o governo interino. João Santana e Mônica Moura começaram a desmoronar o castelo de mentiras de Dilma, mas o senador quer convencer os ignaros com a tese malufista de que a “companheirada” rouba e faz.

Para provar que a estratégia do momento é tentar salvar o partido das muitas denúncias de corrupção, Lindbergh não poupou a delinquência do pensamento, na esquálida manobra para vender a ideia de que os camaradas são pessoas bem intencionadas, apesar de protagonistas da maior roubalheira da história planetária.

“Depois,10 milhões em dinheiro vivo! Não dá nem para dizer que é para caixa dois de eleição. Dez milhões em dinheiro vivo! E os senhores têm que assumir uma responsabilidade. Nós não estamos votando aqui só o afastamento ou não da Presidenta Dilma, nós estamos votando aqui se Michel Temer vai sem investigado ou não, porque se ele vira Presidente de forma definitiva, está muito claro no art. 86, §4º, da Constituição Federal, que diz que o Presidente da República só pode ser investigado por fatos referentes a este mandato. Então, se ele vira Presidente, não pode haver investigação em cima dos 10 milhões da Odebrecht. Sr. Presidente, é um Presidente interino frágil. Todo mundo sabe que é sócio de Eduardo Cunha, autoritário, covarde.”

Em suma, o desespero dos petistas cresce de forma exponencial com o passar das horas, por isso o melhor caminho é assistir a esse espetáculo decadente com doses extras de paciência, pois o que o partido mais precisa é da reação dos adversários para levar adiante o projeto de ressurgimento da lama da corrupção. E quem entrar na discussão estará fazendo o jogo da legenda que acertadamente já foi comparada a uma organização criminosa.

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