Crepúsculo dos deuses

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10Dilma caiu; um dos grandes responsáveis por sua queda, Eduardo Cunha, está para cair (apesar de resistente: seu processo de cassação completa hoje 301 dias). Lula, que segundo o dirigente petista Gilberto Carvalho era um Pelé aguardando entrar em campo, foi acusado pelos procuradores da Lava Jato de participação ativa em esquema criminoso; e ainda vai aparecer a delação premiada de seu marqueteiro João Santana, e a do Príncipe dos Empreiteiros, Marcelo Odebrecht, nas quais, dizem, há material explosivo. Sua esposa e um filho foram intimados a depor pela Polícia Federal sobre o sítio de Atibaia.

E os candidatos do PSDB? Aécio já apanha no setor de doações de campanha; Serra, segundo as primeiras informações a respeito da delação de Marcelo Odebrecht, teria recebido R$ 23 milhões para o caixa 2 de sua campanha de 2010. Temer reeleito? Mas a Odebrecht disse ter dado R$ 10 milhões ao PMDB, a pedido de Temer, em 2014, para pagar dívidas da campanha de Gabriel Chalita para prefeito e para o caixa 2 de Paulo Skaf para governador. Temer confirma o pedido, mas diz que agiu dentro da lei.

E há o segundo time: Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, com um flat em Curitiba exclusivo para tratar de fundos desburocratizados, Guido Mantega, apontado como arrecadador, ao lado de Palocci. Alckmin tem o problema da merenda escolar, mais os trens do Metrô.

Candidatos à Presidência? Pensando bem, não resta um, meu irmão.

O famoso quem

Talvez seja hora de os partidos começarem a procurar candidatos à Presidência fora do primeiro plano da política. É melhor ter candidatos desconhecidos do que apelar para os de sempre, já bem conhecidos.

Fim de uma era

O PT inteiro, aliás, corre risco de vida. Entra enfraquecido nas eleições municipais, com apenas um candidato viável numa capital (João Paulo, Recife), mesmo assim num duelo difícil. E talvez nem entre: o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Gilmar Mendes, abriu processo de fechamento do partido, com base nas descobertas da Lava Jato de uso de recursos públicos nas campanhas. Comprovado o uso de dinheiro irregular, o PT fica proibido de disputar eleições.

Detalhe curioso: Gilmar Mendes tinha mandado abrir o processo há onze meses. E não é que toda a papelada sumiu do TSE, obrigando-o a remontar tudo, agora que preside o tribunal? O presidente do TSE na época, ministro Dias Toffoli, no meio de toda essa confusão política, com toda a certeza nem tinha percebido o sumiço.

Sai e entra

O problema de Gilmar Mendes é que fechar o PT pode ser fácil; mas que fazer dos milhões de petistas, de Lula, dos Guerreiros do Povo Brasileiro que, tão logo deixem suas acomodações em Curitiba, vão voltar a fazer política? Fechado o PT, surgirá um novo partido para abrigá-los; ou assumirão o comando de alguma legenda existente. Sumir é que não vão.

Do mar ao ar

Não é só a delação de Marcelo Odebrecht que liga sua empreiteira a Michel Temer. Toda a história começou no porto de Santos, onde a Odebrecht construiu um enorme terminal de contêineres, o Embraport, fora da área de portos. Embora não fosse permitido construir um porto fora da área de portos, a empresa o construiu exclusivamente com empréstimos oficiais, do BNDES e do BID, com juros de algo como 3% (sim, três por cento) ao ano (sim, ao ano!). Como empreiteira, ainda recebeu pela construção.

Dias depois de inaugurado o porto, a presidente Dilma Rousseff assinou lei autorizando a construção e operação de portos fora das áreas de portos. Nesse período, informa o premiado repórter Cláudio Tognolli, do site internacional Yahoo!, Pedro Moreira Franco, filho de um dos políticos mais próximos de Temer, Moreira Franco, foi em cinco anos de trainee a diretor da Odebrecht. Moreira Franco, como secretário nacional da Aviação, indicado por Temer, comandou a licitação do Galeão – ganha pela Odebrecht.

Veja as reportagens de Tognolli, com a história completa do mar ao céu, em https://goo.gl/VocD6Y e https://goo.gl/2pFZZp

Como é mesmo?

Mas a festa continua. O “Diário do Litoral”, de Santos, descobriu um processo interessantíssimo da Embraport/Odebrecht: a empresa não quer pagar o IPTU à Prefeitura de Santos alegando que construiu seu porto em área rural e de proteção ambiental.

Ué, e podia? Veja a reportagem inteira em http://goo.gl/bxbGxj

Lembrança

Se Dilma for impichada, perde o direito ao foro privilegiado e terá de haver-se com juízes de primeira instância. Pode ser até Sérgio Moro.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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