A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos começa a ficar para as calendas como a libertação rebuscada e meteórica de uma nação consumida por crise sem precedentes, mas o cotidiano continua sendo implacável com o cidadão. Depois da promessa do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), de que a capital fluminense seria o local mais seguro do planeta durante a Olimpíada, os cariocas voltam a enfrentar a rotina do faroeste caboclo.
Confirmando a tese de que no Rio quem manda é o crime organizado, nesta quinta-feira (11), pelo terceiro dia consecutivo, moradores do conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte da cidade, acordaram assustados com uma intensa troca de tiros entre traficantes e policiais.
De acordo com o comando da Polícia Pacificadora, cujas unidades funcionam como escudo do tráfico, os policiais foram atacados por criminosos durante patrulhamento de rotina em local conhecido como Loteamento. Houve troca de tiros, mas até o fechamento desta matéria (11h14) não havia registro de feridos, prisões e apreensões.
Para que o leitor consiga avaliar a interferência do crime organizado na vida do cidadão, nos últimos dois dias o teleférico que funciona na região ficou fechado por causa dos tiros. Essa avalanche de insegurança só terá fim quando o governo federal tiver responsabilidade e combater o tráfico de drogas e de armas que acontece deliberadamente nas chamadas fronteiras secas. Do contrário, o caos urbano no Brasil há de crescer. Apenas para lembrar, a situação no Rio de janeiro só não é pior porque há na cidade milhares de militares e agentes da Força Nacional de Segurança.
Dias antes do início dos Jogos Olímpicos, a cúpula do governo interino de Michel Temer estava preocupada com a imagem que os turistas levariam do Brasil. Mesmo assim, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que somente ao final do evento é que essa imagem estaria devidamente construída. E para tanto os brasileiros deveria fazer a parte que lhes cabe. Ao que parece, os traficantes que atuam nas comunidades carentes do Rio de Janeiro entenderam o recado e estão cumprindo a ordem.
Se até então os estrangeiros viam o Brasil como o país do jeitinho, do samba e do futebol, a partir de agora o status melhorou com alguns adereços extras. Essa barafunda tupiniquim é o reino do faz de conta, onde criminosos mandam mais que as autoridades.