Se por um lado o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo mandato está suspenso, é um arquivo ambulante prestes a explodir, por outro é um poço de mágoas. Como antecipou o UCHO.INFO, há meses, Cunha sabe muito mais dos esquemas de corrupção do que os envolvidos gostariam. Isso significa que o peemedebista, que já colocou um pé na fila da cassação, cairá atirando para todos os lados, sem escolher os alvos.
Eduardo Cunha é alvo de investigações da Operação Lava-Jato e alvo de processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal, mas cresce a possibilidade de, sem mandato, optar pela delação. Porém, entre confessar a própria culpa e selar um acordo de colaboração premiada há uma enorme distância. Cunha terá de denunciar os comparsas, caso queira minimizar as penas que lhe serão impostas pela Justiça. Considerando que sua mulher, a jornalista Claudia Cruz, e sua filha, Danielle Cunha, são investigadas no âmbito da Lava-Jato, o deputado terá de ser cirúrgico em sua delação caso queira estender os benefícios a ambas, que de alguma forma também terão de colaborar.
A grande questão é que Cunha foi abandonado pelos parlamentares que antes protagonizavam verdadeira peregrinação ao gabinete da presidência da Câmara, mas que agora querem distância do político fluminense. Considerando que Eduardo Cunha financiou algumas dezenas de campanhas eleitorais em 2014, o arsenal é grande e altamente explosivo.
A estratégia do ex-presidente da Câmara não é arrastar os traidores para o olho do furacão, até porque essa manobra em nada o beneficiaria, mas atrasar ao máximo a sessão que decidirá sobre a cassação do seu mandato. A data inicial marcada pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é 12 de setembro, fruto da ingerência intestina da cúpula do Palácio do Planalto, que trabalhou com o objetivo de deixar a mencionada sessão para depois do impeachment de Dilma Rousseff.
Contudo, no cenário político nacional entrou uma nova estratégia: empurrar essa votação para depois das eleições municipais, ou seja, final de outubro. Como já noticiou este portal, normalmente depois das eleições os parlamentares retomam os trabalhos em ritmo mais lento, sendo que no momento em que a velocidade de cruzeiro é alcançada está na hora de começar a discutir e votar o Orçamento da União do próximo ano.
No caso de esse conjunto de manobras vingar, a cassação de Eduardo Cunha corre o sério risco de ser decidida somente em fevereiro de 2017, quando o Congresso retorna do recesso de final de ano. Trata-se de mais um escárnio a pontuar a política nacional, mas não se deve desconsiderar essa possibilidade, já que o paiol de Eduardo Cunha é vasto e com estoque de sobra para enfrentar uma dura batalha nos bastidores do poder.