Merendão: depoimento confirma pagamento de propina em contratos com o governo Alckmin

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Infelizmente, no Brasil política faz-se apenas com muito dinheiro. E na maioria das vezes o dinheiro tem origem ilícita, em especial na corrupção. Quando começou a operar nos bastidores para abafar o escândalo conhecido como “Merendão”, o governo tucano de Geraldo Alckmin deu a entender que algo podre havia nos bastidores do caso. Afinal, ao olho do furacão em que se transformou o caso foi arrastado o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), deputado Fernando Capez, do PSDB, membro licenciado do Ministério Público estadual.

Nesta quarta-feira (17), em depoimento à CPI da Merenda, na Alesp, Pedro Chaves, ex-funcionário da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), disse que a entidade pagou “comissão de 10%” sobre os valores dos contratos com a Secretaria da Educação para o fornecimento de merenda a escolas da rede pública. De acordo com Chaves, o valor da propina chegou a R$ 1,3 milhão.

“A prioridade era pagar as comissões. Podia atrasar os salários dos funcionários, mas as comissões não. Era sagrado”, Afirmou Pedro Chaves, que trabalhou como auxiliar de escritório da Coaf entre janeiro e 2013 e fevereiro de 2016.

A Operação Alba Branca, deflagrada pela Polícia Civil em janeiro deste ano, desmontou a máfia da merenda em Bebedouro, na região de Ribeirão Preto, sob a acusação de superfaturamento de contratos da Coaf com prefeituras e o governo paulista para fornecimento de suco de laranja e de pagamento de propina a políticos e agentes públicos.

De acordo com o depoente, as propinas referentes aos contratos com a Secretaria da Educação – foram três no valor de R$ 13,5 milhões – eram pagas ao lobista Marcel Júlio, preso em abril na operação policial. Chaves disse não saber se Marcel usava o dinheiro da propina para pagar agentes públicos ou políticos, mas garantiu que um pagamento no valor de R$ 50 mil, em cheque nominal, foi feito a José Merivaldo dos Santos, ex-assessor de Fernando Capez (PSDB).


Chaves revelou que tinha acesso aos extratos bancários da Coaf e por conta disso recebia telefonemas dos vendedores da entidade para saber sobre os pagamentos por parte das prefeituras e da secretaria de Educação. Ele afirmou que o vendedor César Bertholini, preso em janeiro na Alba Branca, repassava dinheiro a Marcel Julio e Jeter Rodrigues Pereira, também ex-assessor de Capez.

O presidente da Alesp, como era de se esperar, nega ter recebido qualquer valor da Coaf. Os advogados de Jeter Pereira e Merivaldo dos Santos afirmam que seus clientes prestaram serviço de consultoria à cooperativa.

Com base em deliberação da CPI da Merenda, Fernando Capez terá de esclarecer ao colegiado as acusações de que é alvo. Para quem até ingressar na carreira política era promotor de Justiça, Capez está em situação extremamente desconfortável.

A Secretaria da Educação e a Corregedoria Geral da Administração (CGA) garantem que o governo do Estado foi vítima de uma quadrilha montada na Coaf e que não houve superfaturamento nos contratos de suco e laranja para a merenda escolar. Como sempre acontece quando o governo se vê às voltas com um escândalo de corrupção, o discurso liberado por Geraldo Alckmin é o de que o Estado foi vítima de uma quadrilha. O mesmo palavrório foi usado no escândalo envolvendo o Metrô e a CPTM, conhecido como “Trensalão”.

A grande questão é que as duras e moralistas regras defendidas pelo PSDB, em Brasília, para emparedar os adversários não valem na terra dos bandeirantes. Assim fica fácil dar lições de moral e condenar a corrupção, como se o tucanato fosse reduto de gente bem intencionada.

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