(*) Ucho Haddad
A essa altura dos acontecimentos, com o impeachment aprovado pelo Senado, deixo de lado a preocupação com a questão da formalidade no tratamento para garantir a fluidez do texto. Afinal, Dilma, agora você é uma pessoa comum, se é que alguém com o seu perfil – truculenta e prepotente – consegue ser normal. A vida reserva a cada ser humano momentos imprevisíveis, mas o que você agora enfrenta era esperado. Sua soberba, aliada à devastadora incompetência, levou-a ao cadafalso da política. Aliás, Dilma, política é algo que você simplesmente desconhece. Não sei se por incapacidade ou por desdém, mas desconhece.
Fazer política não é fácil, reconheço. É coisa para poucos e maus. Do contrário, o Congresso seria uma filial do paraíso, quando na verdade é a recepção do inferno. E lá você quis dar ordens como se fosse a versão feminina de lúcifer. Você é má o suficiente para tal tarefa, mas sua conhecida ignorância política a impede de frequentar tal universo. Dificuldades são capítulos de um aprendizado sem fim. E espero que você tenha aprendido a lição. Não porque desejo o seu retorno, pelo contrário, quero que fique a léguas de distância de algo que você odeia: a política. Mas porque torço para que você melhore como ser humano. E lembre-se que sua jornada nesse quesito será longuíssima.
Aliás, Dilma, apesar de todas as minhas ácidas e contundentes críticas, sempre torci quando você foi alcançada pela mais temida das doenças, torci para você não ser reeleita, torci para você ser apeada do poder. E torço para que você jamais ouse pisar na seara da política. Inegavelmente torço por você. Na verdade, ao menos 130 milhões de brasileiros torcem por você dessa maneira.
Contudo, Dilma, creio que em um quesito a minha torcida é solitária. Torço para que você olhe-se no espelho, com intensa e minuciosa atenção, e depois dedique uma dura carraspana à pessoa que cuidou das suas sobrancelhas. Mas não seja tão Dilma no momento da bronca. É verdade que a tal da toxina botunílica parece ter pernas e caminhar na direção que não desejamos, mas uma de suas sobrancelhas é um atentado ao bom senso estético. A sobrancelha direita. Que ingenuidade a minha imaginar que a sobrancelha errada de uma comunista seria a esquerda.
Sobrancelhas à parte, Dilma, não há como negar que você promoveu uma enorme e devastadora lambança na economia nacional. Não bastasse, ao se defender no processo que lhe tomou o mandato presidencial, você procurou encontrar culpados para os próprios erros. Quanta arrogância! Talvez por esse motivo a sua sobrancelha direita seja assim, fora da curva. Quer dizer, uma curva que nem um piloto de teste seria capaz de contornar. Pode ser que até a sua sobrancelha fique indignada com suas declarações. E isso só acontece na direita, política e “sobrancelhamente” falando.
Diante dos absurdos cometidos ao longo de cinco anos e mais alguns meses, você não deixará saudade como governante. A não ser aos “canalhas” – aqui me inspiro na fala do desvairado Lindbergh Farias – que por algum motivo escuso abraçaram de forma suicida a defesa de alguém indefensável. Mas confesso, Dilma, você fará falta. Não porque ficaremos órfãos da sua aludida capacidade de governar – que não se confirmou, pelo contrário – mas porque você vez por outra proporcionava momentos bem humorados. Pode parecer um oximoro discursivo o que ora afirmo, já que sua truculência comportamental é voz corrente, mas é verdade.
O Brasil sofre uma longeva e teimosa carência de bons humoristas, o que abre uma oportunidade para você pensar na possibilidade de abraçar essa criativa profissão. Afinal, pataquadas tornaram-se sua maior especialidade. Você tem o direito de discordar, mas faça isso longe do seu conhecido mau humor. Não saia bufando pela sala, caminhando como se fosse o John Wayne sem cavalo. Ademais, Dilma, para quem lutou contra a ditadura militar, como você diz com excesso de ênfase, seu caminhar é típico de caserna. Às vezes penso que você dorme de coturno.
Voltando às suas galhofas… Sei que você detesta o interino, mas não descarte a possibilidade de ser convidada para assumir o Ministério das Risadas, pois os brasileiros há muito buscam um motivo para boas e intermináveis gargalhadas. E você, Dilma, mesmo que discorde, é a pessoa mais indicada para o cargo. Pense bem, você, certa feita, ainda chefe da Casa Civil, disse que blecaute não é apagão e vice-versa. Diante daquela declaração, conclui que você é adepta da enfadonha e insana tese de que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, mesmo que as tais coisas sejam as mesmas. Além de sofrer apagão de neurônios.
Um dia, militando na seara futebolística, terreno fértil para tropeços de governantes, você ousou dizer que Neymar e Ganso têm a “capacidade de fazer a gente olhar”. Confesso que até hoje, passados quase 58 anos da minha existência, sempre olhei por conta própria. Mas entendo a colocação, já que sua miopia política é indiscutível e folclórica.
Dilma, não tenho informações sobre seu currículo escolar, mas causou-me espécie, certa vez, a sua imponente genialidade diante da calculadora. Disse você, após retornar de Portugal, que na pátria mãe 1 em cada 4 portugueses estava na vala do desemprego. Para incensar a política de geração de emprego do seu desgoverno, você retornou ao tema e ousou afirmar que 20% dos portugueses estavam longe da labuta. Na escola que frequentei, Dilma, aprendi que 1 em cada 4 corresponde a 25%. Porém, não deixo de reconhecer que na condição de comandante do período mais corrupto da história nacional, os 5% faltantes na sua conta viraram propina.
Mas não é apenas na aritmética que sua estupidez, Dilma, se faz presente. Ela também dá o ar da graça na Física e na Língua Portuguesa. Um dia, em conversa com Barack Obama, você teria destacado a necessidade de considerar que “quando a pasta de dente sai do dentifrício, ela dificilmente volta para dentro do dentifrício”. Em primeiro lugar, Aladim de saias, entendo que você pode ter ouvido que tudo que entra acaba saindo, ou vice-versa, mas no caso da pasta de dente é uma operação trabalhosa, típica de quem nada tem para fazer. Em segundo lugar, gênio do idioma natal, pasta de dente e dentifrício são sinônimos, assim como ignorância e estupidez são irmãs siamesas.
Dilma, o Brasil transformou-se no “país da piada pronta”, como sempre afirma o jornalista José Simão, por isso sentiremos saudade da pessoa que, em arroubos de inteligência, homenageou a mandioca, sugeriu armazenar vento e criou a figura da mulher sapiens – o que explica a exigência do uso do termo “presidenta”. Por isso, e outros tantos motivos que aqui não cabem, resta-me dizer “tchau, querida”, mesmo que meu desejo fosse deixar outra e nada elegante mensagem de despedida.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.