Temer demite chefe da AGU, nomeia sucessora e deixa ao relento enorme e inflamável “rabo de palha”

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Conhecido por ser cortês, o presidente Michel Temer vem destilando pílulas de deselegância. É difícil afirmar que isso faz parte de uma estratégia de um governo que parece perdido em meio a tantas críticas, mas não se pode negar que o núcleo duro do Palácio do Planalto vem cuidando dos assuntos oficiais com chutes e pontapés. E essa missão nada conveniente é de responsabilidade dos peemedebistas Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, e Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo.

No caso do advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, a sua especulada demissão deve acontecer sem que ocorra um encontro com o presidente da República, responsável maior por sua indicação ao cargo. Quando a demissão de um colaborador é delegada a terceiro, fica a impressão que o governo está sem comando ou que aquele que deveria mandar terceirizou essa tarefa. Ao que parece, a demissão de Fabio Medina foi colocada sobre a escrivaninha de Padilha, que não é a pessoa mais adequada e polida para esses feitos.

A demissão do AGU pode ter um efeito muito mais devastador do que os protestos “Fora, Temer”, pois tem um ingrediente explosivo que certamente causará problema ao Palácio do Planalto. Medina é ex-promotor de Justiça do Rio Grande do Sul e especializado em combate à corrupção. Se a sua indicação foi endossada por Padilha e chancelada por Temer, no mínimo ambos estavam cientes da decisão. Colocar um especialista em combate à corrupção no comando da AGU e querer que o mesmo mantenha-se em silêncio é uma postura suspeita.

Ao demitir Medina por telefone, Michel Temer conseguiu ser tão pífio e deselegante quanto Lula, que fez o mesmo com o então ministro Cristovam Buarque, da Educação, que foi exonerado sem ao menos ter se encontrado com aquele que o nomeou.


Medina criou uma frente de conflito com o governo ao solicitar acesso aos dados da Operação Lava-Jato. O objetivo era ter informações acerca dos políticos envolvidos na roubalheira desenfreada para, em futuro próximo, a União cobrar o ressarcimento do dinheiro desviado. Até porque, não se pode confundir as penas impostas pela Justiça, no âmbito da Lava-Jato, e o direito do Estado de ser ressarcido não apenas no escopo do que foi desviado, mas indenizado pelos danos generalizados. Afinal, corrupção em nível elevado afugenta principalmente investidores estrangeiros.

Por outro lado, Medina sabia que era peçonhenta a cumbuca em que colocaria a própria mão. O partido do governo está atolado no maior escândalo de corrupção, o Petrolão, e, na opinião dos caciques do PMDB, não será o AGU a implodir a legenda com a dinamite da investigação. Em suma, os brasileiros começam a se deparar com mais do mesmo

O imbróglio ganha contornos imprevisíveis porque o presidente da República deve nomear Grace Maria Fernandes Mendonça para o comando da Advocacia-Geral da União, onde é servidora de carreira. A nova chefe da AGU era, até então, responsável pelo acompanhamento das ações no Supremo Tribunal Federal (STF) e goza de bom trânsito entre os ministros da Corte.

Demissões e subsequentes nomeações são normais em qualquer governo, mas é preciso que um ato ocorra após o fim do primeiro. Grace foi nomeada porque o governo tinha – e ainda tem – necessidade de enxertar algumas saias em meio a tantas calças, enquanto Fábio Medina foi dispensado sem uma conversa pessoal com o presidente.

A se confirmar esse quadro marcada pela deselegância, o governo estará deixando ao vento um considerável rabo de palha. Considerando que debaixo da aridez ética e moral que domina o País qualquer fagulha pode provocar um enorme incêndio, o governo está mostrando-se irresponsável ou Michel Temer resolveu brincar de Nero.

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