Em entrevista após cassação, Cunha sinaliza que poderá mandar adversários e ex-aliados pelos ares

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Agora deputado federal cassado, o peemedebista Eduardo Cunha afirmou, horas antes do seu júbilo, que não considera a possibilidade de acordo de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava-Jato porque não cometeu crime. Da mesma forma, ao longo da segunda-feira (12), dia da sua cassação, disse que era a nula a chance de renunciar ao mandato para ganhar tempo e empurrar para depois das eleições municipais a decisão sobre seu futuro político.

Encerrada a sessão – que às 23h50 decidiu por 450 votos a favor, 10 contra e 9 abstenções pela cassação do mandato –, Cunha, quando questionado por jornalistas sobre a possibilidade de revelar o que sabe sobre os bastidores da corrupção e o envolvimento de políticos no Petrolão, declarou que não é do seu feitio fazer ameaças. Para bom entendedor, o ex-deputado partirá para a ação em breve e sem direito a aviso prévio.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados teria dito, em dada ocasião, ao núcleo duro do atual governo, inclusive ao presidente Michel Temer, que na eventual cassação do seu mandato levaria junto 150 deputados, um senador e um ministro de Estado. Considerando que Eduardo Cunha já declarou que não é dado às ameaças, há na Praça Dos Três Poderes muita gente sem dormir.

Quem conhece a trajetória de Cunha como político sabe que não combina com seu perfil (frio e calculista) sair de cena sem arrastar alguns políticos para o olho do furacão. O deputado cassado alegou que a partir de agora terá tempo para escrever um livro sobre os bastidores do impeachment de Dilma, no qual relatará o que viveu, viu e ouviu até o momento em que coube-lhe a decisão dar sinal verde ao processo que apeou a petista do poder central. A promessa é que o livro estará disponível até o final deste ano.


Na rápida entrevista que concedeu aos jornalistas, no Salão Verde da Câmara, logo após a sessão que lhe ceifou o mandato, Cunha deixou evidente sua mágoa com o Palácio do Planalto. O peemedebista disse que no momento em que o governo Temer passou a operar nos bastidores para garantir a eleição de Rodrigo Maia para a presidência da Casa, derrotando Rogério Rosso (PSD-DF), ficou patente a decisão palaciana de aderir ao movimento pela cassação do seu mandato. O deputado cassado também lembrou que essa manobra partiu de Moreira Franco (PMDB-RJ), chefe da Secretaria-Executiva para o Programa de Parcerias de Investimento e sogro de Rodrigo Maia.

Ao negar a possibilidade de acordo de delação no escopo da Lava-Jato, Cunha deixa de considerar o fato de que em breve estará sendo julgado pelo juiz Sérgio Moro, o que pode representar mandado de prisão preventiva e eventual condenação. Ademais, sua mulher, Cláudia Cruz, e sua filha, Danielle Cunha, também respondem a processo que tramita na 13ª Vara federal de Curitiba. Ingrediente a mais para Eduardo Cunha pensar com carinho em eventual conversa amigável com a força-tarefa que investiga o Petrolão.

Há provas suficientes para mandar Eduardo Cunha para a prisão, mas até que isso ocorra será cumprida a ameaça que ele garante jamais ter feito: abrir o arquivo, soltar a voz e ver o circo pegar fogo.

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