Lava-Jato: depoimento de Marcos Valério reforça a fragilidade da investigação do caso Celso Daniel

marcos_valerio_1001

No submundo da política nacional inexistem coincidências, sobram pessoas dispostas a tudo e escândalos são quase todos conexos. Pelo menos é o que se tem percebido ao longo dos últimos treze anos, desde que o PT chegou ao poder central.

Considerado como uma espécie de balão de ensaio do esquema de corrupção conhecido como Petrolão, o maior de todos os tempos, o Mensalão do PT volta à cena e pega carona na Operação Lava-Jato com o depoimento de Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado a 37 anos de prisão na Ação Penal 470 (a condenação inicial foi de 40 anos e 4 meses).

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância do Judiciário pelos processos da Lava-Jato, Valério afirmou, na segunda-feira (12), que a cúpula do PT foi chantageada pelo empresário Ronan Maria Pinto, que ameaçava revelar os bastidores da política de Santo André que prefaciaram o assassinato de Celso Daniel, então prefeito da cidade do ABC paulista.

De acordo com o outrora operador do caixa do Mensalão, coube a Silvio Pereira, ex-secretário do PT, repassar os dados do contrato feito por uma de suas empresas, a S2 Participações, para justificar a transferência de dinheiro para Ronan, dono de empresas de ônibus e atualmente controlador do jornal Diário do Grande ABC.

Ao juiz Moro, o ex-publicitário afirmou que soube detalhes do imbróglio por meio de Paulo Okamotto, atual presidente do Instituto Lula e conhecido nos bastidores como o “trem pagador” do ex-metalúrgico. Valério disse que Okamotto revelou que o empréstimo contraído por José Carlos Bumlai (R$ 12 milhões) junto ao Banco Schahin foi pago com um bilionário contrato entre o grupo e a Petrobras. Coincidência ou não, Bumlai, que está preso na esteira da Lava-Jato, admitiu à força-tarefa ter feito o tal empréstimo para quitar dívidas de campanha do PT.

Por questões óbvias, todos os acusados por Marcos Valério negaram envolvimento no escândalo que tem como pano de fundo o brutal assassinato de Celso Daniel, mas quem conhece o caso sabe que há muito para se investigar. Caso o juiz Sérgio decida a levar a investigação adiante, o Brasil conhecerá em breve as conexões entre os dois escândalos de corrupção que marcaram a passagem do PT pelo Palácio do Planalto, ambos alicerçados na roubalheira que funcionava em Santo André.


Se Ronan Maria Pinto de fato chantageou a cúpula petista (Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho) à época, não se sabe, mas o empresário ficou muito incomodado com a divulgação de trechos das gravações dos telefonemas trocados entre pessoas próximas a Celso Daniel.

O prefeito de Santo André foi morto apenas porque discordou da destinação dada ao dinheiro da corrupção, que deveria alimentar o caixa da campanha presidencial petista de 2002. Como parte do dinheiro da propina acabou financiando a aquisição de belas e confortáveis casas de veraneio em cidades próximas à capital paulista, eliminar Celso Daniel foi a forma encontrada para tirar um problema do caminho.

Ronan nega ter chantageado o trio petista e tenha recebido os quase R$ 6 milhões, dinheiro que, segundo as investigações da Lava-Jato, foi utilizado na aquisição do controle do Diário do grande ABC.

Com a palavra, os advogados

Responsável pela defesa de Okamotto, o advogado Fernando Augusto Fernandes afirmou em nota que, com relação ao depoimento de Marcos Valério, “os depoimentos da Lava Jato, iniciados com fatos, descambaram para mentiras e invenções de condenados que querem se beneficiar com as delações premiadas”.

Também por meio de nota, advogado Fernando José da Costa, que defende Ronan, alega que a versão apresentada por Marcos Valério não foi corroborada por outros depoimentos. “Trata-se de uma versão isolada, dita por Marcos Valério apenas em 2012 – portanto, oito anos após os supostos fatos. Bem como após o mesmo ter sido condenado a mais de 30 anos de reclusão em outro processo bastante conhecido”, destaca o criminalista.

“Tal versão, inclusive, já foi peremptoriamente negada pelo próprio Silvio Pereira, que afirmou não ter dito a Marcos Valério que Ronan teria tentado extorquir o Partido dos Trabalhadores ou quem quer que seja”, completa.

Confira abaixo os principais trechos das gravações telefônicas do caso Celso Daniel, divulgadas à época com exclusividade pelo UCHO.INFO. Em uma delas, o ex-ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Ivone Santana tratam a morte de Celso Daniel com frieza.

santo_andre_1.1

santo_andre_2.1

santo_andre_2.2

santo_andre_3

santo_andre_4

santo_andre_5

santo_andre_6

santo_andre_7

santo_andre_8

santo_andre_9

santo_andre_10

santo_andre_11

santo_andre_12

santo_andre_13

santo_andre_14

apoio_04