Quando exigiu, na última semana, a demissão de Fábio Medina Osório, então advogado-geral da União, o peemedebista Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, sabia que o ato teria consequências complexas e deixaria o governo em difícil situação.
Osório foi demitido por ter solicitado ao Supremo Tribunal Federal (STF) informações sobre a Operação Lava-Jato com o intuito de, em nome da União, cobrar dos políticos envolvidos no Petrolão o pagamento de valores referentes aos prejuízos causados ao Estado brasileiro. Foi o suficiente para o governo acender a luz vermelha, uma vez que muitos políticos, inclusive do PMDB, estão sob investigação no escopo do maior esquema de corrupção de todos os tempos.
Osório foi demitido por Michel Temer por telefone e, como esperado, saiu atirando. O ex-AGU disse que sua demissão foi política e que o governo tenta sufocar a Lava-Jato, o que não é novidade. A declaração de Fábio Medina Osório exigiu um pronunciamento de Padilha, que negou a intenção do Palácio do Planalto de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Algo impossível, mesmo que os palacianos assim desejassem.
Entre o que diz Osório e o que afirma Padilha, a fala mais confiável é a do ex-titular da AGU, que foi convidado ao posto pelo próprio chefe da Casa Civil pelo fato de ser um especialista em combate à corrupção. A declaração de Eliseu Padilha não convenceu, além de ter deixado em alerta a força-tarefa da Lava-Jato, que a partir de agora poderá dar mais celeridade às investigações sobre os integrantes do governo que participaram da divisão do butim.
Na sequência, o presidente Michel Temer afirmou, em entrevista, que entende ser nociva a ingerência de um Pode em outro. Essa foi a forma que o atual inquilino do Palácio do Planalto encontrou para baixar a fervura que se formou a partir da demissão de Osório.
É difícil afirmar que Temer queira interferir na Lava-Jato, como forma de poupar alguns correligionários das garras da lei, mas a ação de Eliseu Padilha não deixou dúvidas acerca a estratégia que vem sendo comentada com largueza nos bastidores da política nacional.
No tocante à declaração de que não se pode fomentar a ingerência de um Poder em outro, a fala de Michel Temer não convence, pois se assim fosse o governo não teria agido nos bastidores para eleger o democrata Marco Maia (RJ) como presidente da Câmara dos Deputados. Em outras palavras, houve na eleição do presidente da Câmara a interferência do Executivo em assuntos do Legislativo.
Ademais, Fábio Medina Osório não ousou interferir na Lava-Jato, mas apenas cumpriu o seu papel de defender os interesses da União. E cobrar os políticos que participaram dos escandalosos desvios de recursos da Petrobras e outras estatais é do interesse da sociedade, portanto cabe ao AGU o dever de agir em nome do Estado. Se ex-diretores da Petrobras e empresários flagrados no Petrolão são alvo de ação de cobrança, não há razão para deixar de fora os políticos corruptos.
O mais impressionante nesse conto de fadas às avessas é que alguns profissionais da imprensa nacional conseguem enxergar doçura onde predomina o salitre que escorre do banditismo político. Não se trata de criticar ou atrapalhar o governo de Michel Temer, que tem árdua missão pela frente, mas de exigir que os fatos sejam levados à opinião pública sob as luzes da ribalta, não a reboque de jornalismo de encomenda.