Em marcha desde março de 2015, a Operação Lava-Jato já produziu inéditos estragos no setor privado, mas na seara política a situação é bem menos grave, apesar da tensão vivida por aqueles que fazem de um mandato eletivo ou cargo público o passaporte para a roubalheira.
Instância máxima do Judiciário brasileiro, o Supremo Tribunal Federal não tem vocação para tribunal penal, mas assim tem funcionado desde que as investigações alcançaram pessoas que gozam do foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. E isso vem ocorrendo desde o começo de 2015, quando foi divulgada a lista de políticos envolvidos no maior escândalo de corrupção da história, o Petrolão.
Se comparado ao número de cidadãos comuns (inclusive políticos sem mandato e foro) que tornaram-se réus no âmbito da Lava-Jato, com direito a prisão e condenação, o contingente de políticos com foro privilegiado na mesma situação é pífio.
É necessário respeitar a prerrogativa constitucional da presunção de inocência, que prevê que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença condenatória, mas a morosidade no julgamento de políticos no escopo da Lava-Jato chega a ser desanimadora. Não se trata de querer condenar esse ou aquele a toque de caia, mas de dar aos políticos o mesmo tratamento dispensado aos cidadãos comuns.
Alguém há de questionar o motivo da aludida pressa, mas é preciso compreender que enquanto a Lava-Jato não avança no campo político, esses saltimbancos com mandato continuam a fazer farra com o dinheiro público, até porque o presidente da República mudou, mas o criminoso presidencialismo de coalizão continua a pleno vapor. Ou será que alguém acredita que o loteamento do governo feito por Michel Temer foi para açambarcar patriotas bem intencionados.
Não é preciso ter conhecimento político para perceber um cenário preocupante que corrói a dignidade do País e dos seus cidadãos. Afinal, quando “paraquedistas” assumem ministérios cujos temas não coadunam com a formação ou experiência profissional dos indicados ao cargo, não resta dúvida de que há algo errado. Alguns alegarão que na estrutura dos ministérios há servidores que são especialistas nas respectivas áreas, mas então é preciso nomear essas pessoas, não os que lá estão para contemplar interesses escusos pessoais e partidários.
No primeiro dia de sua interinidade como presidente da República, o peemedebista Michel Temer prometeu fazer uma devassa na herança deixada pela impedida Dilma Rousseff, à época apenas afastada. É compreensível que enquanto Temer não fosse efetivado no cargo essa devassa poderia soar como retaliação, mas o brasileiro, que às ruas penas financia essa bandalheira institucionalizada, precisa saber o que acontece com um país que afunda no atoleiro da crise e da corrupção.
Sem condições políticas de fazer, em dois anos e três meses de mandato, o necessário para tirar o Brasil da cena do caos, Michel Temer poderia pelo menos mostrar aos brasileiros o tamanho do estrago de que foi alvo o Estado, vítima de um modelo de governança que faz inveja às mais experientes organizações mafiosas.
Longe de querer pasteurizar a pecha de ladrão na seara daqueles que decidem o futuro da nação, mas no momento em que uma figura decrépita como Lula, o “comandante máximo” da corrupção, afirma que a profissão mais honesta é a do político, o País está diante de uma gravíssima inversão de valores. Até porque, o chefão da “propinocracia” está a sugerir que todos os brasileiros, exceto os políticos, são criminosos perigosos e contumazes.