Lamentavelmente, quase um terço dos brasileiros concorda que a culpa pelo estupro é da vítima, indica pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e cujos resultados foram divulgados nesta quarta-feira (21).
De acordo com o levantamento, 30% das pessoas entrevistadas concordaram com a afirmação “a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. O índice é o mesmo para os homens e as mulheres entrevistados. Entre as pessoas com escolaridade que não passou do ensino fundamental, a concordância em relação à absurda tese sobe para 41%. Entre os consultados com ensino superior, o percentual cai para 16%.
“O percentual dos que concordam não varia entre homens e mulheres (30%), o que significa que, para um terço dos brasileiros, a mulher que é agredida sexualmente é, de alguma forma, culpada pela agressão sofrida se opta por usar certas peças de roupa”, destaca o relatório da pesquisa.
Na mesma linha, 37% dos entrevistados concordaram com a frase “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”. Para essa afirmação, o percentual de concordância é maior entre os homens (42%) do que entre as mulheres (32%).
O estudo também afirma que 65% dos brasileiros temem ser vítimas de violência sexual, índica que salta para 85% entre as mulheres e para 90% entre as mulheres que vivem no Nordeste. Para 50%, a polícia militar não está preparada para atender as vítimas, e 42% dizem o mesmo sobre a polícia civil.
A maioria dos inquéritos sobre estupro abertos pela polícia não é esclarecida, enquanto uma minoria de casos que chega à Justiça resulta em condenação. Diante desse quadro, 53% dos entrevistados afirmam que a legislação brasileira protege o estuprador.
Medo de violência sexual
Os entrevistados disseram ver a educação como um meio de mudar a atual situação. Do total, 91% concordaram com a expressão “temos que ensinar os meninos a não estuprar”.
Segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 47.646 casos de estupro foram registrados em todo o País em 2014. Isso significa um estupro a cada 11 minutos, como destaca o FBSP.
“Apesar do alto número de casos registrados, é preciso destacar que a maioria das pessoas que sofrem violência sexual não registra denúncia na polícia, o que torna difícil estimar a prevalência deste crime”, afirma a ONG, indicando que o número real de casos deve ser maior.
Em 2014, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicou, inicialmente, que 61% dos brasileiros acreditavam que mulher que mostra o corpo merece ser atacada. O percentual foi corrigido na sequência para 26%. A divulgação da pesquisa provocou manifestações nas redes sociais e gerou uma campanha na qual pessoas publicavam fotos de seus corpos ao lado da hashtag #EuNãoMereçoSerEstuprada.
O Datafolha fez 3.625 entrevistas com pessoas a partir de 16 anos de idade, em 217 municípios. A coleta de dados foi feita entre os dias 1º e 5 de agosto deste ano. A margem de erro é 2 pontos percentuais para mais ou para menos.