Temer minimiza fala de ministro e diz que projeto que anistia crimes de caixa 2 é assunto do Congresso

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O governo de Michel Temer padece da mesma deficiência que atormentava a gestão antecessora: a incapacidade de combinar com antecedência os discursos sobre temas mais polêmicos. Não há dúvida que o Palácio do Planalto atuou nos bastidores para viabilizar a aprovação do projeto que anistiaria crimes passados de caixa 2, mas diante do estrago provocado pelo caso o discurso oficial mudou em questão de horas.

Na terça-feira (20), o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, disse que “pessoalmente” é favorável ao projeto de lei que arranca da vale da criminalidade o uso de caixa 2 no passado. Isso significa que Geddel não apenas falou em nome próprio, mas no do governo.

O estrago foi grande e o presidente Michel Temer, que encontra-se em Nova York, não demorou a esclarecer os fatos. Disse que acredita não ser bom o tal projeto, mas que a decisão cabe ao Congresso Nacional. Como o governo do PMDB é quase que totalmente parlamentar – exceto os integrantes da equipe econômica e o presidente da Petrobras –, todos os palacianos torceram para que o plano de votar o projeto na calada da noite da última segunda-feira (19) desse certo.


No rastro dos efeitos colaterais da declaração de Geddel Vieira Lima, o staff palaciano apressou-se em informar que a opinião do ministro não reflete a do governo. Considerando que confira em político é uma operação de altíssimo risco, o UCHO.INFO prefere manter a prudência e continuar acreditando que o governo mente acerca do assunto.

A questão é muito simples e não exige doses extras de massa cinzenta para ser compreendida. Em primeiro lugar, delatores da Operação Lava-Jato, em depoimentos de colaboração premiada, afirmaram que foram obrigados a pagar propina por meio de caixa 2 para não perder contratos com a Petrobras. E boa parte dessas “doações” acabou no caixa da campanha de Dilma e Temer. Levando-se em conta que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está a julgar a contabilidade da referida campanha, há o risco de Michel Temer também ser ejetado da cadeira presidencial.

Por outro lado, o segundo ponto de vulnerabilidade em relação ao tema está na delação de Marcelo Odebrecht, presidente afastado da empreiteira baiana, que é altamente explosiva, segundo pessoas que tiveram acesso aos dados da colaboração premiada. Odebrecht teria denunciado pelo menos 200 políticos que receberam dinheiro de propina por meio de caixa 2, o que coloca esse contingente na iminência de ter de prestar contas com a Justiça, inclusive com direito a perda de mandato e pena de prisão.

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