Governo falhou ao não checar histórico da nova chefe da AGU, que esqueceu ser filiada ao PSDB

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É difícil imaginar que o governo de um país como o Brasil, que tem importância no cenário internacional, padeça quando o assunto é serviço de inteligência. Não faz muito tempo, ainda no primeiro governo de Dilma Rousseff, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) falharam por não checar a vida pregressa de Eduardo Gaievski, pedófilo condenado a mais de cem anos de prisão que foi nomeado pela então ministra Gleisi Hoffmann para o cargo de assessor especial da Casa Civil.

Se o GSI e a ABIN cumpriram com as respectivas obrigações, checando o currículo de Gaievski, alguém deve ter bancado a indicação, passando por cima do que determina a legislação vigente. Nenhum ocupante de cargo de confiança escapa de um “pente fino”. Gaiesvki foi preso, Gleisi deixou de ser ministra e Dilma foi apeada da Presidência, mas ninguém deu qualquer satisfação ao povo brasileiro sobre o escândalo. Algo necessário, pois um criminoso de alta periculosidade trabalhou durante longos meses a poucos metros do gabinete da principal autoridade do País.

Agora é a vez do governo de Michel Temer enfrentar constrangimento por causa da nova advogada-geral da União, Grace Mendonça, que garantiu em entrevista jamais ter feito política ao longo da carreira profissional. “A advogada-geral reitera que jamais participou de atividade partidária por qualquer agremiação. Sua atuação à frente da Advocacia-Geral da União é eminentemente técnico-jurídica e voltada ao exercício de uma advocacia pública de Estado”, comunicou a assessoria da AGU por meio de nota.

Contudo, há dezenove anos a advogada-geral é filiada ao PSDB, conforme revelou a coluna “Expresso” da revista “Época”. Grace Mendonça mostrou-se surpresa com a notícia de sua filiação ao PSDB, a qual “não se recorda de ter feito”, mas a situação é constrangedora para o governo.


“Diante deste fato, ainda que reconhecendo a importância das legendas no Estado Democrático de Direito, Grace Maria Fernandes Mendonça vai, cordialmente, solicitar sua imediata desfiliação”, comunicou a AGU.

Após quase duas décadas, uma pessoa pode não lembrar que um dia filiou-se a um partido político, mas não é algo comum, principalmente se considerado o protagonismo do PSDB no cenário político nacional. Seria como um torcedor do Flamengo esquecer que um dia escolheu o rubro-negro carioca como time do coração.

A questão não é a filiação da advogada-geral da União a um partido político, até porque isso não configura crime – José Eduardo Cardozo sempre esteve filiado ao PT –, mas a afirmação de jamais ter participado de atividade político-partidária.

Se Grace Mendonça sofre de lampejos de amnésia é até aceitável, mas é inadmissível que o setor de inteligência do governo de Michel Temer tenha deixado de checar o histórico da nova chefe da Advocacia-Geral da União. Para um governo que ainda não mostrou a que veio, evitar constrangimentos e confusões é ordem primeira.

De igual modo, não se pode aceitar o fato de a Casa Civil não ter solicitado ao GSI e à ABIN uma radiografia da vida da substituta de Fábio Medina Osório, que deixou a AGU na esteira de uma discussão com o ministro Eliseu Padilha e acusando o governo de tentar abafar a Operação Lava-Jato.

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