No domingo (25), o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em mais uma demonstração de histrionismo explícito, antecipou que haveria uma nova fase da Operação Lava-Jato nesta semana. A declaração prejudicou o governo e irritou o presidente Michel Temer. Inclusive, há rumores de que o presidente estaria pensando em demitir o ministro.
“Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”, afirmou o ministro em evento de campanha do deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), candidato à prefeitura de Ribeirão Preto.
Como se sabe, a Operação Omertà, a 35ª fase da Lava-Jato, foi deflagrada nesta segunda-feira (26) prendeu o ex-ministro Antonio Palocci Filho, e dois assessores do petista, Branislav Kontic e Juscelino Dourado.
A declaração de Moraes fez aumentar a desconfiança sobre a isenção das investigações da Polícia Federal, já que evidencia os rumores de que o governo peemedebista interfere no andamento da Lava-Jato. Caso essa declaração tivesse partido de um ministro do então governo do PT, a chiadeira da oposição seria ruidosa e enorme.
Logo após a fala de Moraes, o Ministério da Justiça e Cidadania informou que a declaração do ministro não passava de “força de expressão”. De acordo com a nota, a frase “não foi dita porque o ministro tem algum tipo de informação privilegiada ou saiba de alguma operação com antecedência, e sim no sentido de que todas as semanas estão ocorrendo operações”.
A atitude de Alexandre de Moraes, de noticiar de forma antecipada uma nova fase da Lava-Jato, também coloca em dúvida a autonomia da atuação da Polícia Federal em relação ao governo. O ministro está em São Paulo participando de congresso de combate e prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Ele deve embarcar para Brasília (DF) ainda nesta segunda para reunir-se com Temer, que chamou o assessor com urgência.
Membros do primeiro escalão do governo não escondem a insatisfação sobre a postura do titular da pasta de Justiça. Um interlocutor de Temer afirmou que a reunião desta segunda representará um aceno do presidente para o ministro. “Ele saberá que está por um fio. Não é a primeira declaração infeliz que ele faz”.
O núcleo duro do Palácio do Planalto acredita que Moraes falou demais e foi irresponsável ao fazer a declaração por ser ministro da Justiça e chefe administrativo da Polícia Federal. A PF afirmou, em nota, que “somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação possuem conhecimento de seu conteúdo”.
O governo de Michel Temer tem sido marcado por declarações infelizes de ministros, o que tem prejudicado a imagem do presidente, já que é notória a falha na comunicação e a dificuldade dos oradores para expressar o próprio pensamento. Tanto é assim, que o presidente da República trabalha para a criação de um núcleo de comunicação e a indicação de um porta-voz.
Alexandre de Moraes afirmou a interlocutores que não precisava de treinamento para falar com a imprensa. A reunião com Temer deve servir para mostrar ao ministro que falar demais não é um bom negócio para o governo peemedebista. Conforme aliados do presidente, a fala de Moraes representa um desserviço às investigações e um despreparo para ocupar o cargo.
Durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira, a Polícia Federal negou que tenha repassado informações privilegiadas ao ministro.