Temer não demite ministro da Justiça e perde chance de mostrar que é a favor da Lava-Jato

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Ainda ministro da Justiça, Alexandre de Moraes escapou por pouco de uma demissão vergonhosa, que, se consumada, seria provocada pelo histrionismo barato de alguém que parece encantado com o cargo. Depois de afirmar, no domingo (25), que nesta semana a Operação Lava-Jato teria mais um capítulo, o ministro foi obrigado a dar explicações ao presidente da República, Michel Temer, após a deflagração da Operação Omertà, que prendeu o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda e Casa Civil)

Alexandre de Moraes, durante encontro de participantes do Movimento Brasil Livre (MBL), em Ribeirão Preto (SP), acabou antecipando a 35ª fase da Lava-Jato, o que causou enorme repercussão negativa. Isso porque o ministro cometeu violação de sigilo funcional e improbidade administrativa, assuntos que a oposição ao governo Temer usaram para reforçar a gritaria.

Temer chamou o titular da Justiça em palácio, mas a conversa acabou acontecendo por telefone. Alexandre de Moraes explicou ao presidente a sua desastrada afirmação, alegando que sua declaração não teve o objetivo de antecipar uma fase da Lava-Jato, mas de mostrar que as investigações seguirão. Moraes disse também que apenas um trecho de sua fala foi registrado em vídeo. Como sempre acontece quando uma patuscada produz alguma confusão, a culpa mais uma vez foi do “fora do contexto”. Melhor seria se o ministro tivesse assumido o erro e pedido demissão, o que teria ocorrido em países minimamente sérios.

A declaração de Alexandre de Moraes aconteceu no momento em que o governo começava a se desvencilhar do episódio da demissão do então advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, que deixou o cargo acusando os palacianos de agirem nos bastidores para abafar a Lava-Jato.


Não se pode esquecer que em pouco mais de quatro meses três outros ministros foram demitidos por causa de declarações estabanadas sobre a operação que desmontou o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão. O senador peemedebista Romero Jucá (RR), que comandava o Ministério do Planejamento, foi demitido por afirmar em conversa telefônica que era preciso um “pacto” para impedir o avanço da operação.

Na sequência foi a vez de Fabiano Silveira, que ocupava o Ministério da Transparência e criticou a forma como o Ministério Público Federal vem conduzindo as investigações. O terceiro foi Henrique Eduardo Alves, então ministro do Turismo, que nada falou, mas foi flagrado como titular de conta bancária no exterior não declarada. O nome de Alves consta de delação premiada no âmbito da Lava-Jato.

O governo de Michel Temer tem um sério problema de comunicação, situação que tem deixado o Palácio do Planalto diante de sérias dificuldades. O presidente da República perdeu a chance de demitir Moraes e mostrar à opinião pública que o objetivo do governo é deixar a Lava-Jato correndo solta, indicando para o Ministério da Justiça alguém mais competente e gabaritado. Até porque, depois de treze anos e alguns meses de seguidas “pataquadas” o Brasil merece, pelo menos, um período de governança séria e tranquilidade.

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