Lava-Jato: Palocci já fala abertamente em delação premiada, o que deixaria o alarife Lula na berlinda

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Os criminalistas brasileiros com currículos mais longevos normalmente são contrários à delação premiada, que alivia a pena do réu e ao mesmo tempo desqualifica o trabalho da defesa. A colaboração premiada é algo parecido com jogar a toalha no ringue como forma de preservar a integridade física de um atleta.

Preso na Operação Omertà (35ª fase da Operação Lava-Jato), o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda e Casa Civil) não esconde dos companheiros de cárcere a sua disposição de aderir à delação, algo que seu advogado, o renomado José Roberto Batochio, descarta. Contudo, entre o que deseja o defendido e o defensor há uma considerável distância.

No caso de decidir colaborar com a força-tarefa da Lava-Jato, Palocci certamente provocará um movimento devastador no âmbito das investigações sobre o maior e mais ousado esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.

Durante anos, após ter deixado o governo de Dilma Rousseff debaixo do milagre da multiplicação que alcançou seu patrimônio pessoal, Antonio Palocci passou a ser o principal interlocutor da iniciativa privada com a máquina federal. O petista atuou com muita frequência para o grupo Odebrecht, de quem teria recebido, de acordo com os investigadores, pouco mais de R$ 128 milhões em propina, além de ter deixado de receber R$ 71 milhões.

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Com a decisão da Justiça de bloquear mais de R$ 60 milhões em suas contas bancárias, Palocci já é temido por muitos frequentadores dos subterrâneos políticos. Isso porque os crimes de corrupção cometidos deliberadamente e com a anuência do palácio do Planalto foram tantos, que dificilmente sobrará algum envolvido para contar a história fora da prisão.

Entre os preocupados estão os donos de alguns bancos brasileiros pequenos e médios, que tornaram-se clientes da Projeto, empresa de consultoria de propriedade de Palocci. Uma devassa no histórico fiscal da Projeto produziria um considerável estrago no setor financeiro nacional. O UCHO.INFO teve acesso a um dos talonários de notas fiscais da Projeto e constatou ser impossível o petista ter prestado tantas consultorias enquanto exercia o mandato de deputado federal em Brasília. Até mesmo a pessoa responsável pela emissão das notas estranhou a quantidade de documentos.

Contudo, o ponto mais temido de eventual delação de Antonio Palocci é a relação do governo do PT e do próprio partido com a roubalheira institucionalizada. No caso de o ex-ministro decidir realmente soltar a voz, pelo menos três companheiros terão sérios problemas com a Justiça: Lula, Dilma Rousseff e Guido Mantega.

Em relação a Lula, o dramaturgo do Petrolão, a situação não pioraria muito, já que o ex-presidente da República afunda cada vez mais na lama do Petrolão, sendo que sua prisão já é esperada para qualquer momento. Afinal, a força-tarefa da Lava-Jato, assim como o juiz federal Sérgio Moro, tem provas de sobra para mandar o ex-metalúrgico à prisão.


No tocante a Dilma Rousseff o quadro é diferente, pois uma eventual delação de Palocci poderá revelar os caminhos do esquema de corrupção usados para abastecer o caixa 2 das campanhas da ex-presidente da República. O assunto fica na seara da hipótese apenas porque depende de uma decisão de Antonio Palocci, uma vez que a força-tarefa já obteve provas sobre o uso de dinheiro de corrupção na contabilidade eleitoral de Dilma. A petista nega qualquer envolvimento no esquema criminoso, alegando que o assunto é de responsabilidade do partido.

A questão envolvendo Guido Mantega é mais delicada, porque, segundo os investigadores, o ex-ministro da Fazenda substituiu Palocci na tarefa de fazer a interlocução do empresariado com o governo federal, além de receber a propina. Mantega foi preso recentemente, mas solto horas depois por causa da alegada situação de saúde de sua mulher. O que não justifica sua soltura.

O PT protagonizou o período mais corrupto da história e, apostando na impunidade, cometeu erros primários típicos de ladrões de primeira viagem. Nos últimos meses, o partido vem alegando que todas as doações feitas pelas empreiteiras do Petrolão foram legais e comunicadas à Justiça Eleitoral, mas há muito mais dinheiro sujo nessa epopeia do que se imagina.

Enfrentando um quase irreversível processo de desmonte, o PT continua tentando evitar o pior: ser varrido do mapa político nacional. Uma eventual delação de Palocci e a esperada prisão de Lula colocariam a perder os planos da “companheirada”.

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