Troca de e-mails indica suposta fraude na construção da Arena Corinthians

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O arquiteto responsável pelo projeto da Arena Corinthians, Aníbal Coutinho, alertou o clube, em setembro de 2015, sobre a existência de um suposto processo fraudulento relacionado ao estádio.

Em e-mail enviado por Coutinho naquele mês ao presidente alvinegro, Roberto de Andrade, o arquiteto afirma que o fundo que administra o estádio aceitou relatórios da Odebrecht que atestavam a conclusão da obra em setembro de 2014, um ano antes de ela ser considerada concluída pela própria construtora.

No mesmo e-mail, Coutinho aponta que todas as notas fiscais relacionadas ao trabalho da Odebrecht até 2015 foram emitidas ainda em 2014. Isto é, antes de parte do serviço ser executada, o que é irregular.

Coutinho também afirmou que, em setembro de 2015, a Odebrecht considerava a obra praticamente pronta, mas que faltavam ser executadas partes do projeto arquitetônico avaliadas em mais de R$ 85 milhões. A empreiteira baiana é a principal controladora do fundo, que conta com a participação do clube.

Por meio da assessoria de imprensa do Corinthians, Andrade respondeu que “está tomando providências junto aos responsáveis pela gestão da arena” sobre a informação passada, há mais de um ano pelo arquiteto, de que foram aceitos os boletins que atestavam o fim da obra antes de o mesmo de fato acontecer e de que notas fiscais também foram emitidas antes da conclusão dos serviços.

Sobre a informação de que deixaram de ser executados trechos do projeto arquitetônico avaliados em R$ 85 milhões, a resposta foi de que o clube “contratou uma auditoria para analisar o projeto e verificar o que foi executado e o que deixou de ser executado, bem como o valor do que não foi executado”.


A mensagem enviada por Coutinho a Andrade, com cópia para Andrés Sanchez, ex-presidente corintiano e ex-superintendente do estádio, foi escrita após publicação pela “’Folha de S. Paulo” de reportagem sobre relatório em que o arquiteto apontava problemas na execução da obra.

A publicação ainda trazia nota da Odebrecht afirmando que a arena estava quase pronta e que todas as etapas da obra foram estabelecidas de comum acordo com o clube.

Como sócio do escritório contratado pelo clube para acompanhar a obra, o arquiteto mandou a mensagem pedindo esclarecimentos ao presidente corintiano, pois não havia sido informado de mudanças no contrato que pudessem diminuir a quantidade de serviços a serem realizados.

“Em flagrante desrespeito ao contrato e, no meu entendimento, tornando tais boletins (de avanço) nulos, não há páginas do diário de obras desde novembro de 2013, e centenas de páginas de ocorrências antes desta data, como também não há nenhum destes documentos referentes ao ano de 2015, assinados ou não”, assinalou Coutinho detalhando supostas irregularidades na condução da obra.

Em outro trecho, ele diz que a construtora afirmou para a ”Folha de S.Paulo”, em setembro de 2013, que eram poucos os pontos a serem concluídos na obra, mas que se verifica “a ausência de dezenas de itens, montando a mais de R$ 85 milhões estas lacunas, além de vários itens a refazer, cuja a execução não atinge padrões de aceitação”.

O arquiteto também ressalta que se sentiu desautorizado pela construtora, que afirmou na nota para a Folha que seu único cliente é o Corinthians, ignorando o fato de seu escritório ter sido contratado para cuidar da obra.

Seis dias depois, o presidente do Corinthians respondeu por e-mail ao arquiteto confirmando a legitimidade da empresa dele para acompanhar a obra e afirmando que nenhuma mudança contratual havia sido feita sem o conhecimento de Coutinho.

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