Operação Métis: Collor, Gleisi, Lobão, Renan e Sarney podem ser presos por obstrução à Justiça

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A Operação Métis, da Polícia Federal, que nesta sexta-feira (21) prendeu quatro integrantes da Polícia do Senado pode ter novos desdobramentos. A PF acusa a Polícia do Senado de executar serviço de contrainteligência para obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, em que dezenas de parlamentares estão na mira das autoridades.

A questão não é apenas prender os policiais legislativos, mas responsabilizar os mandantes dos serviços de contraespionagem para impedir grampos telefônicos e ambientais nos locais frequentados pelos senadores envolvidos, em especial nas residências dos mesmos.

O inquérito foi instaurado a partir da delação premiada feita por um policial legislativo. O colaborador revelou que em ao menos quatro ocasiões foram utilizados equipamentos do Senado e recursos públicos para fazer varreduras em imóveis funcionais e particulares de três senadores e de um ex-parlamentar, alvos da Lava-Jato. Em pelo menos duas ocasiões, os servidores se deslocaram para as cidades de Curitiba, no Paraná.

Além dos policiais legislativos, estão envolvidos nesse escândalo os senadores Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-senador José Sarney (PMDB-AP), mas ainda coronel da política maranhense.

Não se pode esquecer que o crime de obstrução à Justiça levou à prisão o ex-senador Delcídio Amaral (MS), por causa da tentativa de compra do silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras e preso na Lava-Jato. O caso envolvendo os três senadores e o ex-senador Sarney é idêntico ao de Delcídio, o que significa que, prevalecendo a isonomia por parte da Justiça, todos podem acabar atrás das grades.

No caso de Gleisi, quatro policiais do Senado, responsáveis pela varredura eletrônica, foram presos sob suspeita de obstrução às investigações da Lava-Jato. “A deliberada utilização de um equipamento sofisticado, de propriedade do Senado Federal, utilizando recursos públicos, passagens aéreas custeadas pelo Erário e servidores concursados, em escritórios ou residências particulares, não possui outro objetivo senão o de embaraçar a investigação de infração penal que envolve organização criminosa”, destaca documento da investigação.

A senadora Gleisi Hoffmann publicou nota em que admite ter solicitado à Polícia Legislativa do Senado Federal para fazer verificação e varredura nas suas residências em Brasília e Curitiba. Ela negou, porém, obstrução à Justiça.


“Logo após a operação de busca e apreensão realizada em minha casa em Brasília e em Curitiba, com a prisão de meu marido Paulo Bernardo, solicitei ao Senado que a Polícia Legislativa, dentro de suas atribuições legais, fizesse uma verificação e uma varredura eletrônica nas residências. Fiz o pedido formalmente. Tem processo no Senado com autorização formal para isso”, escreveu a petista.

Também em nota, publicada no Facebook, a assessoria de Collor negou que o senador alagoano tenha se beneficiado irregularmente de qualquer serviço da polícia legislativa e que desconhece os fatos que embasaram a operação desta sexta-feira.

O advogado de Sarney e Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que não houve qualquer irregularidade cometida pelos clientes. Segundo o advogado, Sarney está “perplexo” e reitera que não solicitou varredura à polícia legislativa, uma vez que não é mais senador.

Sobre Lobão, o advogado alegou que o senador maranhense fez um pedido “justificável” à Polícia do Senado para que a mesma efetuasse varredura na sua casa à época da divulgação de gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e delator da Lava-Jato.

O senador Renan Calheiros, presidente do Senado, por meio de nota, tentou minimizar a Operação Métis. “Convém reiterar que Polícia Legislativa exerce suas atividades dentro do que preceitua a Constituição, as normas legais e o regulamento administrativo do Senado Federal”, destaca Renan na nota.

“Atividades como varredura de escutas ambientais restringem-se a detecção de grampos ilegais (Regulamento administrativo do Senado Federal Parte II Parágrafo 3, inciso IV), sendo impossível, por falta de previsão legal e impossibilidades técnicas, diagnosticar quaisquer outros tipos de monitoramentos”, continua o presidente do Senado.

Na nota, Renan afirma ainda que as instituições “devem guardar os limites de suas atribuições legais”, sem referir-se especificamente a nenhum órgão. “Valores absolutos e sagrados do Estado Democrático de Direito, como a independência dos poderes, as garantias individuais e coletivas, liberdade de expressão e a presunção da inocência precisam ser reiterados”, conclui o senador do PMDB.

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