Exigir coerência no meio político nacional é tarefa das mais hercúleas, talvez uma missão impossível. Quase sempre, políticos têm discursos duais e antagônicos para um mesmo tema. Tudo depende do momento e da necessidade.
Um dos mais incoerentes é o petista Luiz Inácio da Silva, o dramaturgo do Petrolão, que age de forma atabalhoada e diversa diante de temas semelhantes. Quando visitou o malfadado apartamento triplex, no Edifício Solaris, em Guarujá, cidade do litoral paulista, o petista teria dito ao dono da OAS, Léo Pinheiro, que o imóvel não lhe servia. Essa fala faz parte da sua defesa, que tenta negar a propriedade alvo de reformas, as quais faziam parte de um acerto de propina.
A ousadia de Lula é tamanha, que ele chegou a afirmar que dissera a Léo Pinheiro que o apartamento era pequeno e que mais parecia um “triplex Minha Casa, Minha Vida”, em claro deboche ao programa que ele próprio criou para incentivar a construção de casas populares. Para quem saiu do sertão nordestino rumo a São Paulo no lombo de um “pau de arara”, Lula tornou-se um elitista com todas as letras.
Um apartamento triplex em Guarujá, com direito a elevador e piscina no imóvel, não custa pouco. Ao acostumar-se com a dinheirama que escorreu do maior e mais ousado esquema de corrupção da história da humanidade, Lula passou a ver a realidade sobre outro prisma, o de um corrupto insaciável.
A incoerência de Lula está na referência que fez ao tamanho do triplex praiano. Se o apartamento no litoral paulista era pequeno para as necessidades do clã Lula da Silva, o ex-presidente jamais poderia sugerir a Dilma que permanecesse no apartamento de 120 metros quadrados que a petista tem em Porto Alegre, no bairro Tristeza.
Em entrevista à jornalista Natuza Nery, do jornal “Folha de S. Paulo”, Dilma, ao ser questionada sobre como é viver em um imóvel pequeno depois de passar alguns anos no Palácio da Alvorada, respondeu: “O Lula até me disse: ‘para que você precisa de um lugar grande? Fica num pequeno mesmo’”.
Lula, como sabem os leitores, é um embusteiro profissional que age de acordo com a necessidade. E para tanto não se importa com a coerência. Vivendo em um apartamento de cobertura em São Bernardo do Campo, berço do sindicalismo nacional, Lula é acusado pela força-tarefa da Operação Lava-Jato de ser o verdadeiro proprietário do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, alvo de reformas patrocinadas pelas empreiteiras Odebrecht e OAS, como parte de pagamento de propinas.
Resumindo, o ex-metalúrgico não abre mão de viver em locais espaçosos, chegando a desdenhar o triplex em Guarujá, mas sugere a Dilma que continuem morando no apartamento de 120 metros quadrados, que certamente tem o dobro do tamanho dos imóveis do programa “Minha Casa, Minha Vida”, uma das bandeiras do seu desastrado governo. Ademais, com renda mensal de R$ 5 mil a ex-presidente não pode sequer ter sonhos mais ousados.
