(*) Carlos Brickmann
O ex-presidente Lula já descobriu os responsáveis pelas denúncias de corrupção que vem enfrentando: segundo disse a um grupo de seguidores em São Paulo, são os procuradores da Lava-Jato, a imprensa e o juiz Sérgio Moro, que fizeram um pacto diabólico para falsamente incriminá-lo. Dos citados, quem será o Cramulhão, o Canhoto? Lula não esclareceu a dúvida.
Mas o Demônio não é um, é Legião. E há nova denúncia contra Lula, mais uma vez trazida pela imprensa demoníaca. A revista IstoÉ afirma que, em sua delação premiada, o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, oferece mais munição às hordas de capetas que detestam a cor vermelha: diz ter dado R$ 8 milhões a Lula em dinheiro vivo. Um Belzebu amador sentiria cheiro de enxofre. Presente ou pagamento? Pagamento de quê? Por que usar dinheiro vivo? Ora, rastrear dinheiro vivo é muito mais difícil.
No mesmo dia em que Lula denunciou o Pacto Diabólico, foram presos Rodrigo Tacla Duran e Adir Assad, considerados peças-chave do esquema. Empreiteiras contratavam serviços não prestados, pagavam em cheque a eles e recebiam em troca dinheiro vivo, para comprar servidores públicos. Duran e Assad foram delatados pela Odebrecht, a antes celestial benfeitora, a distribuidora de valiosas bênçãos. Deus é o Diabo nesta terra do Sol.
Lula nega tudo, diz que o Capiroto mente, que Asmodeu inventou a propina, pois a delação ainda não foi divulgada. Promete processar a IstoÉ.
Lúcifer
De acordo com a revista – que circularia normalmente neste sábado, 12, mas liberou a edição eletrônica dois dias antes – os pixulecões que Lula teria recebido se referem a suas gestões que ajudaram a Odebrecht a conseguir obras em Angola e Cuba – especialmente o porto de Mariel.
Purgatório
Lula e o PT não são, de acordo com a reportagem assinada por Débora Bergamasco, Mário Simas Filho e Sérgio Pardellas, os únicos alvos das delações premiadas da Odebrecht. Dos R$ 7 bilhões em propinas, houve partes oferecidas (e aceitas) pela ex-presidente Dilma Rousseff (R$ 1 milhão, em dinheiro vivo), a 20 governadores e ex-governadores, a uns cem parlamentares, distribuídos por vários partidos – em especial PT e PMDB, mas atingindo também dirigentes do PSDB. Há brasas para todos. E um detalhe interessante: Dilma e Temer foram eleitos pela mesma chapa.
Escrituras
A Odebrecht, organizadíssima, tinha um departamento de distribuição de pixulecos, com tudo registrado. As delações premiadas têm mais de 300 anexos com documentos (a entrega de dinheiro a Lula, segundo a IstoÉ, ocupa um dos anexos). A documentação dos depoimentos foi preparada por 50 escritórios de advocacia, em Brasília, São Paulo, Rio e Salvador. Trabalham para a Odebrecht, nessa delação premiada, 400 advogados.
Exorcismo
A reação de Lula ao Pacto Diabólico se inicia com a ação judicial contra os proprietários da revista e os repórteres que assinaram a reportagem, A nota de Lula anunciando o processo diz que a revista “é conhecida no mercado editorial pela venalidade e pela desfaçatez com que vende reportagens, capas e até editoriais, aos mais diversos clientes’”. E garante que jamais recebeu ou pediu (…) “valores ilícitos, seja da empresa citada pela revista ou por qualquer outra”. E acusa: “A má-fé da revista é tão evidente que os autores sequer procuraram a defesa ou a assessoria do ex-presidente antes de publicar a mentira”.
O corte das despesas
Michel Temer diz que, se não cuidar dos gastos, o Brasil vai a falência em 2023. Luta para aprovar a emenda constitucional que limita gastos públicos, promete reformar a Previdência para deixá-la mais barata.
Enquanto isso, o mesmo Michel Temer gastou R$ 596 mil num show, no último dia 7, em homenagem ao centenário do samba – um show exclusivíssimo, para 600 convidados, com Neguinho da Beija-Flor, Áurea Martins, Márcio Gomes e André Lara. Fafá de Belém foi contratada exclusivamente para encerrar o espetáculo com o Hino Nacional. Terminado o show, coquetel para 600 pessoas, coisa fina. Somos pobres, mas sabemos o que é bom, principalmente quando o Tesouro paga a conta.
O Legislativo se esforça para ficar à altura do Executivo: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passeia no Azerbaijão com tudo pago por nós, e ainda recebe diárias. No Judiciário, o ministro Recardo Lewandowski, que está na faixa mais alta dos vencimentos de servidores públicos, pede um bom aumento. Se tudo sobe, por que os vencimentos sobem menos?
Pague sem espernear
O ministro Lewandowski tem razão: por que os salários têm de subir menos que os preços? Mas isso deveria valer para todos, não é mesmo?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.