Para bancar amante, Renan alegou venda de vacas, mas não explicou quantos bois custou defesa milionária

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“Nunca antes na história deste país” viu-se tanta desfaçatez no meio político. Mesmo assim, a reação da sociedade está muito aquém da monumental ousadia da classe política, que tenta perpetuar no Brasil a ditadura da corrupção.

Flagrados em vários e seguidos escândalos de corrupção, os políticos brasileiros negam inocência, ao mesmo tempo em que contratam defensores renomados, com direito a honorários estratosféricos. Traduzindo a partir da sabedoria popular, político algum escreve sentado aquilo que fala em pé. No momento em que a acusação é de corrupção, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e outros crimes correlatos, configura utopia contratar um defensor a peso de ouro.

O melhor exemplo é o que vem ocorrendo à sombra da Operação Lava-Jato, cujos réus e investigados são defendidos pelos mais renomados criminalistas do País, os quais cobram dos tubarões do Petrolão honorários que variam entre R# 3 milhões e R$ 10 milhões. Os bagres da roubalheira desembolsam valores menores, mas absurdos diante da realidade econômica nacional e dos salários que recebem como políticos.

Nesta quinta-feira (1), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá se o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) é realmente culpado no caso em que é acusado de corrupção, falsidade ideológica e falsificação de documento. Trata-se de acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) no âmbito do uso de propina para o pagamento, por parte de Renan, das despesas da amante e da filha fora do casamento.

Com o advento do escândalo, Renan Calheiros tratou de arrumar uma desculpa esfarrapada para eventualmente escapar de punição. Disse o presidente do Senado que as despesas da jornalista Mônica Veloso, sua então amante, e da respectiva filha, foram pagas com dinheiro proveniente da venda de gado. Por isso o UCHO.INFO batizou o imbróglio como “caso das vacas sagradas”, que pelo valor que foram vendidas fazem inveja às parentes que vivem na Índia, onde são sagradas.

A Polícia Federal entrou no caso e descobriu que as notas fiscais de venda de gado, apresentadas por Renan, são fraudulentas. E a PF conseguiu provar a partir do depoimento de pessoas envolvidas na suposta transação comercial.


Pois bem, Renan, que assumiu o caso extraconjugal e a filha fora do casamento, não convenceu com suas esdrúxulas explicações sobre a origem dinheiro misterioso. Como animais não falam, ficou o dito pelo não dito, mas a PGR não amoleceu com o senador alagoano.

Ora, causa espécie o fato de Renan Calheiros, que como senador da República recebe mensalmente R$ 33.763,00 de salário, ter como defensor, no caso em questão, o advogado Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República.

Apenas a título de informação, uma defesa desse calibre não custa menos de R$ 3 milhões, pois em jogo está não apenas uma carreira política e um mandato parlamentar, mas a oportunidade de continuar como integrante da mais alta Casa do Parlamento, que atualmente é visto pela opinião pública como usina de negócios escusos e, por consequência, de casos de corrupção.

A questão não é colocar em xeque a idoneidade do advogado Aristides Junqueira, respeitado no meio jurídico e que em questão de recebimento de honorários é terceiro de boa fé, mas questionar a origem do dinheiro de alguém que, acusado de corrupção, alega ter vendido cabeças de gado para bancar a amante. Se essa é a forma como Renan Calheiros consegue dinheiro da noite para o dia, para honrar o compromisso financeiro assumido com seu defensor terá de vender uma boiada, quiçá tenha de recorrer às vacas do vizinho.

Para finalizar, apelando à aritmética e também ao bom senso, as contas de Renan Calheiros não batem e a defesa feita pelo advogado Aristides Junqueira perde-se no cálculo. Na seara do agronegócio, mais especificamente no setor de proteína animal, um boi (pode ser uma vaca também) pesa em média 18 arrobas, com muita ajuda chega a 20 arrobas. O mercado de abate paga, na cotação desta quinta-feira, R$ 150 por arroba. Ou seja, em pé um boi – ou uma vaca de Renan – vale R$ 3 mil.

A então amante de Renan recebia, à época, mesada de R$ 12 mil, segundo as investigações, valor que hoje exigiria a venda de pelo menos quatro vacas a cada mês. A confusão não para por aí, mas fica a pergunta que não quer calar: quantas vacas terá vendido Renan Calheiros para custear os honorários do seu renomado defensor? Números para lá e para cá, ao menos mil vacas mudaram de endereço ou viraram bife. Enfim…

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