Em 31 de outubro de 2007, quando afirmou que a escolha do Brasil com sede da Copa do Mundo de 2014 era um enorme equívoco da FIFA e uma tremenda irresponsabilidade do governo brasileiro, o UCHO.INFO foi alvo de críticas de todos os naipes e que partiram dos mais variados segmentos da sociedade.
Na ocasião, este portal de notícias ressaltou que o País tinha outras prioridades que deveriam ser solucionadas antes de se pensar em realizar um evento esportivo de grande magnitude. Sem contar que a construção de arenas esportivas, algumas delas verdadeiros “elefantes brancos”, seria um convite à corrupção desenfreada. E isso ficou facilmente comprovado no custo final da maioria dos estádios erguidos para o certame.
Se a Copa do Mundo de 2014 é coisa do passado, o pesadelo decorrente da competição ainda vaga em plagas verde-louras. Pendências financeiras e nos tribunais podem chegar ao incrível montante de R$ 1 bilhão, o que explica o fato de o Comitê Organizador Local (COL) ainda estar funcionando.
O COL é chefiado por Marco Polo Del Nero, também presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e deveria ter sido dissolvido 18 meses após o fim da Copa. Contudo, segundo a Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (Jucerj), onde o órgão está devidamente registrado, um ano após a data-limite o comitê continua em atividade.
A última reunião da diretoria do COL aconteceu em 8 de agosto de 2016, mas a ata entrou nos arquivos da junta comercial apenas no mês passado. Na reunião, a assembleia de dirigentes tratou das contas relativas a 2015. Del Nero não compareceu, mas foi representado por Rogério Caboclo, diretor-executivo de Gestão da CBF.
A CBF, que também consta como sócia do comitê que organizou a Copa do Mundo, teve como outro representante o seu diretor jurídico, Carlos Eugênio Lopes. No encontro, as contas do COL foram aprovadas “integralmente e sem quaisquer emendas ou ressalvas”.
Contraditoriamente, são as questões financeiras que impedem que o COL encerre as atividades, passados 30 meses do término da Copa do Mundo. Um membro do alto escalão da CBF confirmou que, entre pendências e demandas da Justiça, o valor atinge a inimaginável cifra de R$ 1 bilhão.
Advogados que trabalham nas dezenas de casos afirmam que será preciso desembolsar, de chofre, um montante de até R$ 20milhões para dar trato às pendências. A CBF acredita que a FIFA assumirá esses encargos.
A FIFA declarou, por meio de nota, que “o escopo da operação da Copa do Mundo é imenso e inclui um intenso trabalho após a competição”. A entidade confirmou também ser a responsável por financiar o comitê, mas que os valores desembolsados atualmente são mínimos se comparados ao período pré-Copa.
Na FIFA, a proposta de reforma das Copas do Mundo também prevê o fim dos comitês organizadores locais. Pelo novo formato, a organização será centralizada em Zurique. Fontes na Suíça confirmaram que foi o “caos” do COL no Brasil que levou a entidade a decidir pelo fim deste modelo.
Há dois anos e meio, o organismo criado no Brasil recebeu da FIFA US$ 440 milhões (R$ 1,4 bilhão pela cotação atual da moeda norte-americana), mas parte do dinheiro foi destinada ao pagamento dos salários de cartolas – Ricardo Terra Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Internamente, a FIFA também avaliou que, ao dar poder a um grupo local, perdeu o controle sobre o uso político do Mundial.
O resultado foi uma pressão de dirigentes brasileiros para inchar o evento. O grupo que comandava a CBF colocou o torneio em 12 estádios – e não oito como pedia a FIFA. A estrutura da Copa chegou a passar até por consultas com o ex-presidente Lula, em escolhas que envolviam também critérios políticos. O petista foi o principal responsável pelo aumento do número de cidades-sede.
A atividade do COL passou a ser alvo de investigações de CPI no Brasil e do FBI nos Estados Unidos, que apura as relações entre Ricardo Teixeira e o ex-secretário-geral da FIFA, o francês Jérôme Valcke.
Como mencionado acima, foram herdados “elefantes brancos” – Arena Pantanal (Cuiabá), Arena das Dunas (Natal), Arena Amazônia (Manaus) e o Estádio Nacional Mané Garrincha (Brasília). Nesses locais, mesmo no âmbito estadual, a atividade futebolística em termos de campeonato é pífia ou nula.
O escárnio decorrente da Copa de 2014 é tamanho, que até o lendário Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, está abandonado e sendo alvo de saques, como informou o UCHO.INFO em matéria anterior.