Trump classifica a OTAN como “obsoleta” e União Europeia reage às críticas do presidente eleito dos EUA

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O governo da Alemanha rebateu nesta segunda-feira (16) as críticas feitas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à sua política de refugiados, bem como à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e à União Europeia (UE).

“Acho que nós, europeus, temos nosso destino em nossas mãos. Continuarei me empenhando para que os 27 países-membros trabalhem juntos de forma intensa e orientados para o futuro”, disse a chanceler alemã Angela Merkel, durante uma entrevista em Berlim, após receber o premiê da Nova Zelândia, Bill English.

Em entrevista aos jornais alemão Bild e britânico The Times, o republicano disse que a OTAN estava obsoleta, elogiou a saída do Reino Unido da União Europeia e culpou a política de refugiados de Merkel pelo atentado em Berlim.

Em relação às críticas sobre sua política para refugiados, Merkel disse que o combate ao terrorismo é um desafio para todos. “Eu vou, mais uma vez, separar isso claramente da questão dos refugiados”. A chefe do governo alemão acrescentou que muitos sírios deixaram seu país por causa do terrorismo e não apenas por causa da guerra civil.

O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, disse que as declarações de Trump causaram espanto e apreensão, não apenas em Bruxelas, onde fica a sede da OTAN. Steinmeier, que se encontrou na capital belga com o secretário-geral Jens Stoltenberg, disse que a aliança militar recebeu as declarações com preocupação. O ministro alemão acrescentou ainda que elas não condizem com a opinião do futuro secretário de Defesa dos EUA, James Mattis.

O presidente da França, François Hollande, disse que a União Europeia “não precisa de conselhos externos”, em claro e duro recado a Trump. “Afirmo aqui, a Europa estará sempre disposta a continuar com a cooperação transatlântica, mas esta será determinada em função de seus interesses e seus valores. Não precisa de conselhos externos para lhe dizer o que tem que fazer”, declarou Hollande, segundo a AFP, ao condecorar, em Paris, a embaixadora americana em fim de missão, Jane Hartley.

Manuel Valls, ex-primeiro-ministro da França e pré-candidato socialista à presidência do país europeu, foi ainda mais duro e disse que Donald Trump “delcarou guerra” à Europa com seus comentários.

A fala de Trump sobre a crise migratória é mais um devaneio discursivo do presidente eleito dos EUA, pois não apenas as guerras localizadas e a ação de terroristas explicam o desespero dos refugiados em busca da sobrevivência, mas a miséria crescente ao redor do planeta. Dados da ONG Oxfam apontam que, em 2016, oito bilionários detinham a mesma riqueza da metade mais pobre da população mundial, formada por 3,6 bilhões de pessoas.

Bill Gates (Microsoft), Amancio Ortega (Inditex-Zara), Warren Buffett (investidor), Carlos Slim (telecomunicações), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook), Larry Ellison (Oracle) e Michael Bloomberg (comunicações) têm US$ 426 bilhões. No contraponto, a riqueza da metade mais pobre da população global é de US$ 409 bilhões.


Unidade entre europeus

O ministro do Exterior da França, Jean-Marc Ayrault, também destacou a união da União Europeia ao comentar as declarações do presidente eleito. “A melhor resposta à entrevista de Trump é a unidade dos europeus”, disse Ayrault em Bruxelas.

“A melhor maneira de defender a Europa, que é um convite que fazemos a Trump, é permanecermos unidos, formarmos um bloco, não esquecermos que a força dos europeus é sua unidade”, afirmou Ayrault, ressaltando que espera, em breve, reunir-se com o futuro secretário de Estado norte-americano para tratar de temas como as sanções a Moscou, a questão ucraniana, o acordo nuclear com o Irã e o acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.

A presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite, disse esperara continuidade do futuro governo americano e pediu que Trump mantenha as obrigações financeiras dos EUA com a OTAN. “Desde a Segunda Guerra, a presença de tropas americanas é um pré-requisito para reconstruir o continente e garantir a paz e a segurança”, destacou.

O ministro do Exterior da Dinamarca, Anders Samuelsen, aproveitou para criticar a forma como Trump tem usado as redes sociais para fazer anúncios políticos. “Passaremos [após a posse do presidente americano] da diplomacia do Twitter para a realidade, que é talvez mais difícil do que está acontecendo no Twitter”, afirmou.

Não apenas críticas

Apesar de algumas críticas, as declarações de Donald Trump foram bem recebidas no Reino Unido. O secretário britânico do Exterior, Boris Johnson, disse ter recebido com satisfação os comentários sobre a intenção de fechar acordos bilaterais com os EUA. “A vontade dos Estados Unidos de fechar um bom acordo de livre-comércio conosco é uma ótima notícia. Queremos isso logo”, disse Johnson.

Porém, é importante ressaltar que não serão as relações comerciais entre países que evitarão a bizarrice de alguns governantes, como, por exemplo, o russo Vladimir Putin, o próprio Donald Trump e um grupo de extremistas que abusam do populismo para enganar a opinião pública. (Com agências internacionais)

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