Insistir na teoria da conspiração para explicar o acidente que matou Teori Zavascki é irresponsabilidade

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É impossível negar que a perda de um ente querido e próximo é dolorosa. A dor torna-se ainda maior quando a morte se dá forma trágica. É o caso do acidente aéreo ocorrido, na quinta-feira (19), em Paraty, no qual morreram o ministro Teori Albino Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário Carlos Alberto Filgueiras, dono do Grupo Emiliano, e outras três pessoas.

Relator dos processos resultantes da Operação Lava-Jato no caso de investigados com direito ao foro privilegiado, Teori Zavascki teve uma trajetória ilibada e carreira brilhante como magistrado. Um dos filhos do falecido ministro, o advogado Francisco Prehn Zavascki, que vem falando em nome da família, disse à Rádio Estadão que “seria muito ruim para o País ter um ministro do Supremo assassinado”.

Francisco Zavascki cobrou uma profunda apuração da morte do pai e afirmou que nenhuma possibilidade deve ser descartada. “É preciso investigar a fundo se foi acidente ou não, que a verdade venha à tona seja ela qual for”, declarou o advogado.

“Ainda não parei para pensar, não deu tempo para pensar com mais calma nisso, mas não podemos descartar qualquer possibilidade. No meu íntimo, eu torço para que tenha sido um acidente, seria muito ruim para o País ter um ministro do Supremo assassinado”, completou.

Os depoimentos de testemunhas oculares do acidente não deixam dúvidas a respeito do que ocorreu com o King Air C90GT, uma aeronave moderna e segura. Por mais que o equipamento seja confiável, não se pode descartar falha humana. Vários fatores contribuem para a tese de que foi de fato um acidente. O aeroporto de Paraty é obsoleto e opera somente no visual. O que significa que o piloto precisa ter condições para visualizar a pista cm antecedência. Além disso, no momento da queda chovia muito na região e a visibilidade no local era mínima, para não afirmar que era quase nula.

De tal modo, apostar na teoria da conspiração como forma de explicar o ocorrido é querer dar asas à imaginação, quando o momento exige bom senso, tranquilidade e responsabilidade.


Francisco Zavascki também disse que há no País diversos grupos contrários às investigações de casos de corrupção e que seu pai já teria recebido ameaças. “Seria infantil dizer que não há movimento contrário, agora a questão é o que o movimento seria capaz de fazer”, afirmou.

Ao escolher determinada profissão, a pessoa precisa saber os riscos que a mesma oferece. De igual modo é importante saber avaliar a veracidade e o potencial de eventuais ameaças decorrentes do ofício, já que a extensa maioria sequer chega às vias de fato.

Fomentar a tese de um crime encomendado é insistir em não enxergar a realidade e incentivar a continuidade de uma crise que há muito devasta o País. Teorias conspiratórias servem apenas para despejar combustível em uma fogueira que surgiu sem qualquer motivo. Não se trata de questionar a Operação Lava-Jato como um todo, mas de cobrar parcimônia nas declarações.

Fosse um crime encomendado por meio de sabotagem, como muitos sugerem, o mesmo deveria ter ocorrido longe da cidade de Paraty, não colocando em risco a vida de pessoas que não têm qualquer relação com a Lava-Jato.

Nós do UCHO.INFO compreendemos a dor da família Zavascki, mas continuaremos pautando o nosso jornalismo na verdade dos fatos. Teoria da conspiração e “achismo” não fazem parte do nosso cotidiano profissional, mesmo sabendo que, por termos denunciado o esquema de corrupção hoje conhecido como Petrolão, corremos riscos constantes.

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