A chanceler alemã Angela Merkel iniciou, na quinta-feira (2), visita oficial à Turquia, a primeira desde a tentativa frustrada de golpe militar em julho do ano passado. O encontro com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ocorre em meio a tensões entre Berlim e Ancara.
Merkel disse ter transmitido a Erdogan suas preocupações com a liberdade de expressão no país. “A oposição faz parte de uma democracia”, declarou a líder alemã em Ancara, durante pronunciamento à imprensa ao lado do presidente turco. “Lidamos com isso todos os dias em Estados democráticos”, afirmou.
Desde a tentativa de golpe, Recep Erdogan vem governando a Turquia de forma autocrática. Dezenas de milhares de políticos, jornalistas, professores, promotores públicos e cidadãos comuns já foram presos. A imprensa crítica foi desmantelada, a aliança curda de oposição foi dissolvida. As alegações do governo são sempre as mesmas: as partes envolvidas participaram do golpe fracassado.
Angela Merkel exaltou o desejo da população por um país mais democrático. “Com a tentativa de golpe, vimos o povo turco defender a democracia e as regras da democracia”, disse a chefe do governo da Alemanha. “Em um momento de profunda convulsão política, tudo deve ser feito para continuar protegendo a separação de poderes e, acima de tudo, a liberdade de opinião e a diversidade da sociedade”, completou.
Referendo em abril
Erdogan entendeu a menção de Merkel à divisão de poderes como uma crítica à lei de reforma constitucional proposta pelo partido governista, o AKP, e que será submetida a referendo em abril. A proposta em questão prevê o sistema presidencialista e daria mais poderes ao chefe de Estado.
Ao lado da chanceler alemã, Erdogan negou que o presidencialismo ameaçaria a separação de poderes. “Não há um pingo de fundamento nisso. Há um órgão legislativo, um executivo, bem como um judiciário’, declarou o presidente turco. “Está fora de cogitação acabar com a separação de poderes.”
“Terrorismo islamista”
Em outro momento de tensão entre os dois líderes, Erdogan censurou a chanceler federal alemã por usar a expressão “terrorismo islamista” ao mencionar os assuntos abordados com o presidente turco durante o encontro. “Pessoalmente, como um muçulmano, não posso aceitar isso”, afirmou ele.
“A expressão ‘terrorismo islamista’ nos causa uma profunda mágoa. Não é justo que uma expressão como essa seja usada. O islã e o terrorismo não podem ser associados”, completou Erdogan.
Merkel respondeu afirmando que, na língua de seu país, há uma diferença linguística entre “islamista” e “islâmico”. Ela ainda reforçou que os alemães “não só respeitam e valorizam os muçulmanos, como querem trabalhar juntos e combater esse terrorismo juntos”. (Com agências internacionais)