Odebrecht confirma doação por caixa 2 à chapa Dilma-Temer e diz que “era o bobo da corte do governo”

O staff do Palácio do Planalto estava com excesso de preocupação em relação ao depoimento de Marcelo Bahia Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no âmbito do processo que trata do processo que pode culminar na cassação do mandato de Michel Temer (PMDB-SP), mas os palacianos apostavam em eventual silêncio do empresário baiano que está preso desde junho de 2015, em Curitiba. Mesmo assim, Odebrecht, que soltou a voz, negou que Temer tenha pedido doação ao PMDB.

Em depoimento capitaneado pelo ministro Herman Benjamin, relator do processo no TSE, Odebrecht afirmou que a maior parte dos recursos destinados à campanha Dilma-Temer, em 2014, teve como origem o caixa 2. O que pode levar à cassação do registro da candidatura, aumentando ainda mais a crise política que chacoalha o País.

O ex-presidente do grupo empresarial disse que Dilma Rousseff sabia da extensão do esquema criminoso e dos pagamentos ilícitos feitos ao então marqueteiro petista João Santana, que na maioria das vezes recebeu valores em dinheiro. Esse detalhe é comprometedor, mas carece de comprovação. Como a Odebrecht tinha um departamento específico para cuidar do pagamento de propina, essa tarefa não é difícil.

De acordo com Marcelo Odebrecht, o valor acertado para a campanha de Dilma foi de R$ 150 milhões, sendo parte (R$ 50 milhões) era referente ao pagamento pela votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso Nacional em 2009 e que beneficiou a Braskem, empresa do ramo petroquímico controlada pelo grupo.


No depoimento, Odebrecht relatou à Justiça um encontro com Dilma no México, quando lembrou à petista que os pagamentos feitos a João Santana estavam “contaminados”. Isso porque as offshores utilizadas por empresários serviam para o pagamento de propinas. O empreiteiro afirmou que esse assunto era tratado com frequência entre Antonio Palocci Filho e Santana.

Marcelo Odebrecht confirmou o encontro com o presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, em 2014, mas negou ter acertado com o então vice-presidente um valor para doação. O empresário disse que não houve pedido direto de Temer para doação ao PMDB no valor de R$ 10 milhões, montante acertado anteriormente por Eliseu Padilha e Cláudio Melo Filho.

Parte do pagamento foi feito através de caixa 2, o que coloca mais combustível na confusão envolvendo Padilha, o advogado José Yunes e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, preso no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília.

Ao ministro-relator o empresário disse que “era o bobo da corte do governo”. “Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”.

Nesse trecho do depoimento, Odebrecht comprometeu o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda), com quem o empresário negociava as doações eleitorais com base nas obras públicas executadas pela empreiteira, algumas por imposição do Palácio do Planalto.

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