Acusado por delatores da Operação Lava-Jato, em especial por dirigentes e ex-executivos da Odebrecht, de receber propinas oriundas do Petrolão em nome do PMDB, Eliseu Padilha recebeu alta médica após submeter-se a cirurgia na próstata, podendo retornar ao comando da Casa Civil na próxima segunda-feira (13). O presidente Michel Temer aguarda a volta do principal colaborador, mas ainda não é certo que isso ocorrerá.
A situação de Padilha começou a piorar dias antes do seu pedido de licença, quando o advogado José Yunes, amigo de longa data de Temer, disse às autoridades da Lava-Jato que atuou como “mula” ao receber em seu escritório um envelope a pedido do chefe da Casa Civil. Se por um lado a declaração poupou o presidente da República, por outro comprometeu a defesa de Padilha. O envelope foi entregue a mando do Lucio Bolonha Funaro, ligado a Eduardo Cunha e acusado de ser operador financeiro do PMDB.
O clima de apreensão que domina os mais reservados corredores do Palácio do Planalto é o mesmo que começa avançar na direção da cúpula do PMDB. Considerado como a “bola da vez” na Operação Lava-Jato, o partido não vive seus melhores dias. Depois da prisão de Eduardo Cunha, que continua mandando recados transversos aos correligionários, o PMDB acompanhou a queda de Geddel Vieira Lima, viu crescer o calvário de Renan Calheiros e foi surpreendido pela decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de arrastar o senador Valdir Raupp para o núcleo de réus por corrupção.
Não obstante, o retorno de Eliseu Padilha à Casa Civil é largamente contestado por parte da legenda, que tenta escapar do tsunami que surge a reboque da Lava-Jato. No caso em questão há duas vertentes a serem consideradas. O afastamento definitivo de Padilha da cúpula do governo tiraria os holofotes apontados na direção do Palácio do Planalto, diminuindo a pressão sobre o presidente da República, também acusado no âmbito da Lava-Jato, mas deixaria o PMDB na fogueira.
Por outro lado, é importante levar em conta que Eliseu Padilha sabe muito além do que os caciques peemedebistas gostariam. As 71 anos e saindo de uma cirurgia que assombra o universo masculino, Padilha não tem muito a perder a essa altura dos acontecimentos. E no caso de resolver contar o que sabe, poucos restarão em pé.
Como se não bastasse, o horizonte peemedebista fica mais carrancudo com as denúncias contra Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ), que às pressas foi guindado ao posto de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência como forma de garantir o direito ao foro especial por prerrogativa de função, o contestado foro privilegiado. Assim como o licenciado chefe da Casa Civil, Moreira Franco é acusado de corrupção.
A preocupação que ronda o PMDB é tamanha, que o partido cancelou a reunião da Executiva Nacional marcada para esta quarta-feira (8). A decisão foi tomada à sombra de pedido dos deputados federais Carlos Marun (MS), Hildo Rocha (MA), João Arruda (PR) e Lúcio Mosquini (RO), que em documento entregue na véspera cobram o imediato afastamento da cúpula da legenda.
Há quem garanta que o cancelamento foi para evitar constrangimentos, mas os maledicentes alegam que o encontro configuraria formação de quadrilha. Em tempos de Polícia Federal nas ruas de todo o País, cautela redobrada nunca é demais.