Todos os envolvidos no Petrolão, esquema de corrupção que funcionou durante uma década na Petrobras, alegam inocência até o momento em que a delação premiada torna-se inevitável. Alguns resistem mais tempo até admitir participação na roubalheira sistêmica interrompida pela Operação Lava-Jato, mas, cedo ou tarde, a confissão acaba acontecendo. O que não se pode aceitar é que a prisão preventiva funcione como instrumento de indução à delação.
Um dos que alegam inocência é o “camarada” José Dirceu de Oliveira e Silva, mas nesta quarta-feira (8) o juiz Sérgio Moro condenou o ex-comissário palaciano a onze anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no escopo do Petrolão. Trata-se da segunda condenação imposta a José Dirceu, que já fora condenado anteriormente a vinte anos e dez meses de prisão pelos mesmos crimes.
Na ação que resultou na segunda condenação, Dirceu é acusado de recebimento de propina para favorecer a empresa Apolo Tubulars pela Petrobras, crime que o petista nega, como sempre faz para tentar provar ser vítima de perseguição. Na mesma ação penal foi condenado Luiz Eduardo Oliveira e Silva, irmão de Dirceu, a seis anos e oito meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
“Eu estou sendo responsabilizado por um contrato sem nenhuma participação minha ou de minha empresa. Nenhuma. Zero”, declarou Dirceu em depoimento à Justiça. “Eu, realmente, não tenho nada a ver com isso. Na verdade, eu não devia estar aqui, sinceramente. Eu não tenho muito o que dizer”, completou.
No mesmo depoimento, o ex-chefe da Casa Civil da Presidência (primeiro governo Lula) admitiu ter recebido valores da Credencial Construtora, empresa que para os investigadores foi usada como “fachada” para concretizar o negócio. Contudo, José Dirceu alegou que o valor recebido da Credencial era referente a consultoria prestada no Panamá.
De acordo com as investigações, Renato Duque, então diretor de Serviços da Petrobras, indicado ao cargo pelo PT (leia-se José Dirceu), viabilizou, mediante propina no valor de $ 2,1 milhões, “a contratação da Apolo Tubulars em contrato de fornecimento de tubos com valor inicial de R$ 255.798.376,40, que foi maximizado para o valor de R$ 450.460.940,84”.
O advogado Roberto Podval, responsável pela defesa de Dirceu, fez críticas à decisão da Justiça, pois essa é a regra do jogo. “Hoje não se julga mais os fatos e sim o nome de quem aparece na capa do processo. Estão matando o Zé Dirceu. É mais fácil matá-lo que admitir sua inocência. Espero com a teimosia dos burros que nossos juízes voltem a julgar se guiando pela constituição e não pela opinião pública.”
Integrante do time dos estrelados criminalistas brasileiros, Podval sabe que a especialidade do seu cliente não é o milagre da multiplicação. José Dirceu há muito cumpre penas de prisão (Mensalão do PT e Petrolão), ou seja, está sem trabalhar desde a primeira condenação. Mesmo assim, o eterno inocente consegue custear os honorários de um a defesa milionária. Eis a receita secreta que nove entre dez seres humanos gostariam de saber.