Lava-Jato: desentendimento entre investigados por corrupção pode mandar o PMDB pelos ares

Apregoa a sabedoria popular que “a polícia se dá bem quando os bandidos se desentendem”. Banditismo à parte, o imbróglio envolvendo próceres do PMDB e autoridades que gravitam na órbita da legenda, no escopo da Operação Lava-Jato, tem ingredientes de sobra para dar errado e terminar em enorme confusão. Sorte da Polícia Federal, que corre o sério risco de ter de levar mais alguns espertalhões para a cadeia.

A questão é simples e não requer doses extras de tutano. A delação coletiva do Grupo Odebrecht ainda não teve o seu conteúdo liberado oficialmente, mas vazamentos pontuais já produzem considerável estrago no andar de cima da política nacional. Enquanto as acusações dos delatores colocavam os peemedebistas Eliseu Padilha e Wellington Moreira Franco no olho do furacão, sem direito a maiores explicações, o advogado José Yunes, amigo de longa data do presidente da República, decidia soltar a voz às autoridades que investigam o Petrolão.

Yunes disse aos procuradores federais que agiu como mula de Padilha ao receber, em seu escritório de advocacia, em São Paulo, envelope entregue a mando de Lucio Bolonha Funaro, preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, e acusado de ser o operador financeiro do PMDB.

Eliseu Padilha, que afastou-se temporariamente do comando da Casa Civil por conta de cirurgia na próstata, pode não voltar ao posto por causa das polemicas resultantes dos desdobramentos da delação do grupo empresarial baiano, em especial dos depoimentos de Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho. Padilha é acusado pelos delatores de ter negociado e recebido R$ 10 milhões destinados ao PMDB, em 2014, através de caixa 2.

Moreira Franco, por sua vez, mantém o seu comportamento recluso e reforça o silêncio quase obsequioso, mas sua permanência no governo começa a se transformar em enorme estorvo para Michel Temer, que até agora não mostrou a que veio. Como não há na história brasileira qualquer registro de que políticos sempre agiram debaixo dos olhares de um Ali Babá tupiniquim, nessa epopeia peemedebista poucos são os inocentes. E Temer certamente não escapará da lufada investigatória.


O castelo de mentiras do PMDB começa a desmoronar, mas os caciques da legenda insistem em desqualificar não apenas a Lava-Jato, mas o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a nesga que une doações de campanha supostamente oficiais às propinas travestidas de legalidade.

O ponto de vulnerabilidade dessa ópera bandoleira surgiu no rastro do depoimento espontâneo de José Yunes, que enxergou em sua atitude uma oportunidade de blindar Temer. Acontece que os investigadores descobriram que empresas dos filhos de Yunes – Marcos e Marcelo Mariz de Oliveira Yunes – pagaram R$ 1,2 milhão a empresas “laranjas”. As empresas dos irmãos Yunes aparecem em pelo menos 141 transações financeiras suspeitas.

A força-tarefa da Lava-Jato acredita que essas operações canhestras serviram como rota de passagem para viabilizar o repasse de propinas a políticos ligados ao grupo peemedebista.

José Yunes, por sua vez, afirma que não tem qualquer relação com as empresas dos filhos, o que não significa que desconhecimento em relação às operações. Contudo, Yunes tem contra si a disposição de Lucio Bolonha Funaro de revelar a verdade e participar de uma acareação com a participação do advogado amigo de Temer e de Eliseu Padilha.

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