O Tribunal Constitucional da Coreia do Sul removeu oficialmente do cargo, nesta sexta-feira (10), a presidente Park Geun-hye. O afastamento, devido a escândalo de corrupção, ocorre em momento de tensões crescentes com os vizinhos Coreia do Norte e China, podendo gerar mudanças não só na política interna, mas também no equilíbrio de poderes na Ásia.
A decisão provocou protestos de centenas de simpatizantes de Geun-hye, e as autoridades tiveram que acionar mais de 20 mil policiais para conter os tumultos nas ruas da capital Seul. Dois manifestantes morreram nos confrontos.
A comissão de oito juízes ratificou uma votação no Parlamento que determinava o impeachment de Park por envolvimento em um caso de fraude, abrindo o caminho para um processo penal.
“[Os atos de Park] violam a Constituição e a lei e traem a confiança pública”, disse o magistrado-chefe Lee Jung-mi. “Os benefícios de proteger a Constituição que podem ser ganhos ao afastar a ré são incrivelmente grandes”.
Park foi apontada como suspeita de crime, o que a transforma na primeira líder democraticamente eleita da Coreia do Sul a ser afastada do cargo desde que a democracia substituiu a ditadura no final dos anos 1980. Choi Soon-sil, amiga íntima da presidente, é acusada de cobrar propina de conglomerados sul-coreanos, como a Samsung.
O advogado de Park, Seo Seok-gu, que anteriormente comparou o impeachment com a crucificação de Jesus Cristo, qualificou o veredicto como uma “decisão trágica” nascida sob pressão popular e questionou a imparcialidade do que ele chamou de um “tribunal fantoche”.
Pesquisas indicam que mais de 70% dos sul-coreanos apoiam o impeachment, número reforçado pelas centenas de milhares de manifestantes que passaram as últimas semanas clamando nas ruas pela saída definitiva da presidente.
Provocações do Norte
O ministro da Defesa sul-coreano ordenou ao Exército que monitore possíveis provocações da Coreia do Norte que eventualmente tentem explorar “situações de instabilidade no país e no exterior.”
Durante videoconferência com os comandantes militares nesta sexta-feira, Han Min Koo advertiu que o país vizinho poderia incorrer em provocações “estratégicas ou operacionais” a qualquer momento.
Nas últimas semanas, a Coreia do Norte testou mísseis balísticos. O país também aproveitou a decisão do tribunal para afirmar que Park agora será investigada como “criminosa comum”.
A decisão aprofundou o clima de incerteza política e de insegurança na Coreia do Sul. Em meio a tensões com a Coreia do Norte, o país também sofre ameaças de retaliação econômica da China após acordo de cooperação entre Seul e Washington por um sistema antimísseis.
Guinada política
A Coreia do Sul deverá realizar eleições no prazo de dois meses para a escolha de um sucessor para Park. O primeiro-ministro Hwang Kyo-ahn, presidente em exercício, disse que trabalhará com seu gabinete para estabilizar o país e garantir a realização do pleito.
“Eu respeito a decisão constitucional da corte […]. O gabinete deverá conduzir os assuntos de Estado de maneira estável e garantir a ordem social de forma a evitar a intensificação de conflitos internos”, afirmou.
Segundo a imprensa local, Hwang poderá concorrer à presidência como candidato dos conservadores. O liberal Moon Jae-in, que perdeu para Park nas eleições de 2012, aparece na liderança nas últimas pesquisas de opinião.
Com os conservadores enfraquecidos, o impeachment deve mudar a política sul-coreana, com a oposição de esquerda assumindo o poder pela primeira vez numa década. Isso afetaria o balanço de poderes da Ásia – a esquerda pode reavivar a chamada “política do raio de Sol”, que prega maior contato político com a Coreia do Norte.
Tal política, afirmam observadores, pode complicar os esforços dos Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, para isolar a Coreia do Norte, no momento em que países da região gravitam cada vez mais em direção a Pequim. Outro objetivo da oposição é justamente tentar minimizar as tensões com a China. (Com agências internacionais)