Carne Fraca: imprensa age com leviandade ao tentar arrastar ministro da Justiça ao olho do furacão

Como sempre acontece, a grande imprensa brasileira não se contenta em noticiar os fatos e suas consequências, em especial as que atingem a população, mas insiste em buscar supostos escândalos que rendam boas manchetes.

Horas depois da deflagração da Operação Carne Fraca, nesta sexta-feira (17), o noticiário verde-louro abria espaçou para divulgar que Osmar Serraglio, ministro da Justiça, foi citado no escândalo que resultou no cumprimento de 38 mandados de prisão e outros tantos de busca e apreensão.

É importante salientar que Serraglio não aparece na “Carne Fraca”, como sugerem alguns veículos de imprensa, mas apenas conversou por telefone com Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016. Sendo assim, sugerir que o ministro é investigado na operação da Polícia Federal é no mínimo jornalismo de bordel.

Antes de qualquer ilação maldosa é preciso compreender como funciona a estrutura do Estado brasileiro, cada vez mais fisiologista em termos político-partidários. O cargo de superintendente estadual de um ministério é alcançado por vias políticas, o que pode explicar a conversa telefônica entre o fiscal agropecuário e Serraglio, político que tem carreira ilibada e currículo a toda prova.

O fato de o ministro da Justiça, enquanto deputado federal, ter usado o termo “grande chefe” na conversa com Daniel Gonçalves Filho não significa que Serraglio integrava a quadrilha e se reportava ao fiscal agropecuário. Insistir nessa tese é leviandade.

Jornalistas que cobrem a política nacional, em Brasília, conhecem o comportamento dos parlamentares e das autoridades, a ponto de preverem fatos a partir do gestual dos mesmos. E o termo “chefe” é carinhosa e comumente usado por políticos do Paraná. Ou seja, as reportagens que tentam colocar o ministro da Justiça no olho do furacão são emolduradas por covardia e falta de ética.

Vale destacar que no Rio de Janeiro o termo “meu irmão” é usado coloquial e cotidianamente pelos cariocas. O que não permite concluir que um político da Cidade Maravilhosa seja massacrado em uma investigação policial por ter usado tal termo em conversa telefônica, como se fosse uma “omertà”, palavra de origem italiana que significa código de honra e deu origem ao livro homônimo de Mario Puzzo.

Bamboleios jornalísticos à parte, a Operação Carne Fraca mostrou, de chofre, pontos positivos, os quais a imprensa preferiu ignorar, mas que o UCHO.INFO faz questão de salientar. Quando o nome de Osmar Serraglio ganhou força entre os candidatos ao Ministério da Justiça, muitos se apressaram em dizer que por ser do PMDB ele poderia interferir na autonomia da Polícia Federal, em especial no âmbito da Operação Lava-Jato.


Pois bem, a “Carne Fraca” não apenas colocou por terra essa teoria da conspiração, mas mostrou de forma cabal que Serraglio age com total isenção. O ministro soube somente nesta sexta-feira, como cidadão comum, que teve seu nome mencionado na investigação. A conclusão do Ministério Público Federal e da Justiça Federal é de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa telefônica degravada pelos investigadores.

Que fique claro

Alguém pode afirmar que este portal de notícias está a defender Osmar Serraglio, mas nosso compromisso é com o bom jornalismo e a ética. Se a verdade está a favor do ministro da Justiça, que assim seja. Sabem os leitores que o UCHO.INFO não faz jornalismo de encomenda e não tergiversa diante dos fatos. Apenas é fiel ao dever de levar aos leitores a melhor informação e a análise mais balizada. Tanto é assim, que noticiamos como absoluta exclusividade que Serraglio seria o ministro da Justiça.

Apenas para refrescar a memória dos leitores, o editor do UCHO.INFO agiu com lisura e responsabilidade nos casos envolvendo Alceni Guerra, então ministro da Saúde no governo Collor; Denise Abreu, então diretora jurídica da Anac; e Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara dos Deputados.

Alceni Guerra foi covarde e levianamente acusado de favorecer empresa comercial (Casa do Pedro) em licitação para compra de bicicletas que seriam utilizadas por agentes sanitários em ações do Ministério da Saúde. Tudo não passou de enorme calúnia, mas a vida de Alceni, um homem público honesto, e de sua família foi destruída por causa da irresponsabilidade de um jornalista vaidoso e delinquente.

Em relação a Denise Abreu, o editor foi o único jornalista brasileiro a defendê-la da acusação de ser responsável pelo acidente com o avião da TAM, em 17 de julho de 2007, no aeroporto de Congonhas (SP), que deixou 199 mortos. Como diretora jurídica da Anac, Denise sequer tinha autonomia e poder para liberar a pista de um aeroporto, à época recentemente reformada, porque não era área da sua competência, mas da diretoria técnica do órgão. Transformaram-na em bode expiatório por necessidade política, mas a Justiça falou mais alto e absolveu-a de forma inconteste.

Com referência a Ibsen Pinheiro, o editor defendeu o então deputado federal pelo PMDB gaúcho, que no escândalo conhecido como “Anões do Orçamento” foi acusado por determinado jornalista de integrar o grupo de parlamentares que manipularam o orçamento. A conclusão a que chegou o profissional da imprensa surgiu quando o mesmo descobriu que Ibsen recebera US$ 1 milhão do esquema criminoso, quando na verdade seu saldo bancário era infinitamente menor, equivalente a pouco mais R$ 1 mil em valores atuais. Passada mais de uma década da cassação de Ibsen Pinheiro, o jornalista reconheceu que agiu de má fé.

O Brasil quer a verdade e deve ser passado a limpo, mas não se pode adotar a malhação de Judas como prática do cotidiano. Se a Alceni o que é de Alceni, se a Denise o que é de Denise, se a Ibsen o que é de Ibsen, a Serraglio o que é de Serraglio.

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