Em 17 de março de 2014, há exatos três anos, a Polícia Federal deflagrava a primeira fase da Operação Lava-Jato, que desmontou o maior e mais ousado esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão. Naquela data, a PF prendeu em um hotel de São Luís, capital do Maranhão, o doleiro contumaz Alberto Youssef, então acusado de ser o todo-poderoso do esquema criminoso que funcionou durante uma década na Petrobras.
Passados esses anos, o que se vê e ouve no momento é uma avalanche de discursos em favor da Lava-Jato, como se a operação estivesse sendo ameaçada de alguma forma ou se o Brasil não tivesse leis em número suficiente para punir exemplarmente os corruptos.
Em vez de “sou mais Moro”, “a favor da Lava-Jato” e outros mantras de ocasião, a opinião pública deveria não dar tanta importância aos movimentos que convocam manifestações, os quais perderam musculatura após o impeachment, mas dedicar alguns momentos para compreender os desdobramentos da operação em si.
Nesta sexta-feira, 17 de março de 2017, o doleiro da Lava-Jato migrou para o regime domiciliar aberto, o que significa liberdade parcial. Por determinação do juiz Sérgio Moro, Youssef usará tornezeleira eletrônica por mais dois anos nos períodos de recolhimento – não poderá sair de casa das 20h às 6h e nos finais de semana e feriados devera permanecer o tempo todo em casa.
Somadas todas as penas no âmbito do Petrolão, Youssef teria sido condenado a 117 anos de prisão. Certa feita, um dos procuradores federais da Lava-Jato, em conversa telefônica com o editor do UCHO.INFO, disse que o doleiro não sairia da prisão antes de cem anos. O que mostra que o tal promotor desconhece a lei brasileiro, que limita o período prisional a trinta anos.
Sedentos por informações sobre o acintoso esquema de corrupção, os investigadores deram voz a Youssef em troca de redução de pena. Não se pode ignorar o viés positivo da Lei nº 12.850/2013, que define organização criminosa e estabelece a colaboração premiada, mas é preciso que os operadores da Justiça usem o bom senso no momento da redução das penas. Quando um criminoso condenado a mais de um século de prisão reconquista a liberdade em apenas três anos, há algo errado na aplicação da lei.
Não se pode esquecer que, ao ser preso na capital maranhense, Alberto Yossef já era velho conhecido da PF e estava debaixo de outro acordo com a Justiça, firmado com o juiz Sérgio Moro no escopo do escândalo do Banestado. Na ocasião, ao agora juiz da Lava-Jato o doleiro assumiu o compromisso de não mais operar no mercado de câmbio, atividade que retomou em seguida. Até porque, Youssef precisava viabilizar o plano do então deputado federal José Janene (morto em 2010), mentor intelectual do Petrolão.
À força-tarefa da Lava-Jato, em muitos depoimentos, Youssef falou o que quis, o que lhe era conveniente. Muitos assuntos polêmicos e comprometedores ficaram de fora da delação premiada, pois comprometeria pessoas e patrimônios polpudos e ilegais.
Como prova de que o doleiro falou meia verdade, a Polícia Federal decidiu indiciar Taiana de Souza Camargo, ex-amante de Youssef, que recebeu de presente (sic) um automóvel da marca BMW e um apartamento no Morumbi, na Zona Sul paulistana, avaliado em R$ 871 mil.
“Evidentemente, Taiana tinha conhecimento das atividades ilícitas de Alberto Youssef, ou ao menos era presumível que soubesse delas”, disse o delegado federal Ivan Ziolkowski.
De acordo com o relatório da Polícia Federal, Youssef transferiu diversos bens para a ex-amante, que foi capa da revista Playboy, a título de “presentes”, assim como pagava despesas de Taiana, como, por exemplo, o condomínio do edifício em que morava e a escola do filho. Fora isso, Taiana tornou-se sócia de restaurantes em São Paulo.
Ora, se a ex-amásia Taiana Camargo acabou indiciada pela PF porque, de acordo com as investigações, sabia das atividades ilícitas de Alberto Youssef e delas se beneficiou, causa espécie o fato de a família de José Janene ter sido poupada até agora. Apenas a título de informação, Youssef e Janene eram não apenas sócios em uma operação criminosa, mas compadres. Coincidência ou não, ao ser acometido por problema de saúde, Janene aproximou-se ainda mais do compadre Youssef, a quem delegou o comando de boa parte de suas canhestras operações financeiras.
A questão mais contundente, depois do “alívio” dado á família Janene, é saber como o doleiro conseguiu pagar advogados caros e badalados. Afinal, Alberto Youssef passou mais de dois anos preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, período em que apresentou recursos à Justiça e negociou acordo de colaboração premiada. E criminalista no Brasil não trabalha de graça em hipótese alguma.